CONTO DE NATAL DE UM PESCADOR
Sonho e desperto dum pequeno sono leve, lá fora as ultimas luzes
apagam-se e a madrugada ergue-se.Está frio, olho as ultimas estrelas
que se fundem e desço.
Um lanço, dois, a areia está dura da geada, estou só, lembro-me dos
amigos que já partiram, os seus risos na madrugada, vejo-os, os
robalos que tiramos juntos, estou só, mas não estou sozinho, fazem
parte de mim,são parte da minha alma de pescador. Na linha tensa, escuto os seus murmurios, estão bem, estão em paz,
sinto-me feliz.
A vida descobre-se num piar de um maçarico abrigado, na aragem que
sopra leve.
Apenas pesco, não penso em mais nada, viajo, sobre as asas de um
albatroz a caminho dos mares austrais, sempre voando, sem parar, será
que sonho?
Aproxima-se O Natal, sinto-o pelos chilros dos tordos no seu vôo
nocturno, pela lua que se inclina , no ar rarefeito da manhã, pelos
pintassilgos que voam para o sul.
Desperto e penso que desta alma de pescador não saírei, mesmo que
envelheça e não possa pescar, os meus olhos serão sempre os de um
pescador, e pescarei na memoria dos tempos.
Porque o mar será sempre o meu refugio e a terra apenas e só uma breve
passagem...
Feliz Natal...
