BARBO
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ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO
O barbo-comum (Barbus bocagei Steindachner, 1864), também denominado de barbo-do-Norte, é um ciprinídeo endémico da Península Ibérica que possui uma distribuição alargada, ocupado a quase totalidade das bacias hidrográficas de Portugal Continental, com excepção das dos Rios Guadiana, Mira, Ribeiras do Algarve e Minho – em Espanha frequenta as bacias do Douro, Lima e Tejo. Apesar de em ambos os países existirem referências históricas da ocorrência deste taxon na bacia do Minho, no entanto, nas últimas décadas não existe confirmação de tal presença.
MORFOLOGIA
È uma espécie que apresenta um corpo alongado e comprimido lateralmente, com boca protáctil e em posição ínfera, apresentando dois pares de barbilhos na mandíbula superior. Possuem características particulares em duas das suas barbatana, pois o último raio da dorsal apresenta-se ossificado e denticulado, enquanto que a barbatana anal é pequena, possuindo uma largura superior nas fêmeas, facto que estará relacionado com a forma de realizar a postura, uma vez que no período de reprodução utilizam-na para “escavar” sulcos no leito dos cursos de águas onde depositam os ovos. Na época da reprodução os machos apresentam pontuações esbranquiçadas na região cefálica, mais concretamente à volta do focinho, vulgarmente apelidadas de tubérculos nupciais. Os indivíduos deste taxon podem atingir os 100 cm, alcançando usualmente as fêmeas maiores dimensões e longevidades que os machos. A coloração varia entre os cursos de água e ao longo das fases de desenvolvimento em que os exemplares se encontram.
HABITAT
O barbo-comum é uma espécie que apresenta uma grande adaptabilidade face a diversos sistemas dulçaquícolas, ocupando um largo espectro de habitas de carácter lótico e lêntico, preferindo sobretudo locais com corrente fraca ou moderada e evitando águas com baixas temperaturas; estas características frequentemente correspondem aos sectores médios e inferiores dos cursos de água. Deve ser igualmente mencionado que este taxon se encontra presente, e bem adaptado, numa grande percentagem das albufeiras existentes na sua área potencial de distribuição. Nos rios, é habitual os barbos refugiarem-se junto às margens, seleccionando por isso zonas com forte cobertura ripária; é também usual o recurso a zonas que possuam detritos lenhosos e/ou substrato rochoso para abrigo.
A elevada plasticidade característica deste taxon é demonstrada pela sua adaptação a sistemas fluviais que apresentam uma degradação significativa da qualidade da água. Em Portugal, a presente situação pode ser comprovada num estudo de idade e crescimento efectuado com exemplares capturados em cursos de água da bacia hidrográfica do Tejo, onde foi registado que a população que exibiu maiores taxas de crescimento habitava o Rio Nabão, que é uma linha de água muito enriquecida do ponto de vista orgânico devido á entrada no sistema de elevadas concentrações de nutrientes.
ALIMENTAÇÃO
O B. bocagei é uma espécie que ostenta um comportamento alimentar bentónico, apresentando uma alimentação omnívora e oportunista. Os exemplares desta espécie ingerem as componentes mais abundantes e acessíveis dos cursos de água, nomeadamente material vegetal – macrófitos aquáticos e algas filamentosas –, insectos – e.g., dípteros, efemerópteros, plecópteros –, crustáceos, consumindo também detritos.
REPRODUÇÃO
A época de reprodução decorre usualmente entre Maio a Julho, quando os exemplares deste taxon encetam migrações potamódromas – deslocamentos restritos aos ambientes dulçaquícolas – para os locais propícios para a desova. Estes últimos estão sobretudo localizados em zonas pouco profundas, com substrato de areia, gravilha ou cascalho, e onde a água usualmente se apresenta bem oxigenada e com corrente forte.
FACTORES DE AMEAÇAS
Apesar do presente taxon ser abundante – o que pode ser comprovado pelo estatuto de Pouco Preocupante e de Não Ameaçado, respectivamente no Livro Vermelhos dos Vertebrados de Portugal e Espanha – nos últimos anos tem ocorrido uma regressão nos seus efectivos populacionais, devido a um conjunto de factores, particularmente a deterioração de habitats, a introdução de espécies exóticas e a pressão piscícola.
A degradação do habitat deriva essencialmente do efeito barreira das obras hidráulicas com a consequente fragmentação da malha habitacional, da alteração do regime de caudais, das captações de água e da extracção de inertes.
A obstrução das rotas de migração potamódroma por obras hidráulicas transversais – e.g., barragens e mini-hídricas – poderia ser minimizada pela implementação de passagens para peixes, contudo, em Portugal, a maioria dos dispositivos de transposição piscícola existentes apresentam uma funcionalidade baixa ou mesmo nula. Para além das barragens, outras construções que podem afectar a livre circulação das espécies dulçaquícolas são os açudes tradicionais – e os que são edificados durante o Verão com o intuito de disponibilizar praias fluviais – em que a sua difícil transponibilidade poderá ser mais problemática nos períodos de maior escassez de água – final da Primavera e principio do Verão –, que são as épocas do ano mais propícias aos movimentos migratórios reprodutivos. Situação análoga foi confirmada em Portugal, num estudo de rádio-telemetria efectuado no Rio Alva – bacia hidrográfica do Mondego – em que a presença de três açudes tradicionais impediu o deslocamento dos espécimes monitorizados para montante, confinando-os às secções entre os referidos açudes.
A pressão piscícola é uma consequência do barbo-comum ser uma espécie com elevado interesse do ponto de vista desportivo e mesmo alimentar. A utilização frequente de métodos de captura ilícitos em Portugal, sobretudo o envenenamento com substâncias tóxicas e a utilização de explosivos e de artes de pesca ilegais (e.g., tresmalhos), também será um factor importante no decréscimo populacional de diversas espécies piscícolas portuguesas, entre elas o barbo-comum.
A introdução de algumas espécies exóticas poderá ser igualmente responsável por algum declínio da população de B. bocagei na Península Ibérica, sobretudo devido à competição pelos recursos – e.g., alimento, habitat –, mas também resultado da predação que será exercida, particularmente sobre as fases juvenis, por alguns dos taxa piscívoros introduzidos como o achigã (Micropterus salmoides), o lúcio (Esox lucius) e a lucioperca (Sander lucioperca).