Não poderei dizer que sou um pescador, mas sempre fui fascinado por pesca, quem sabe se por, de miúdo, ir com o meu padrinho a pesca de sargos á linha/mão, o fascínio de sair á noite já era o suficiente para ficar entusiasmado, e sabendo que ia pescar ainda mais fiquei. Fomos para um pontão,em Almada,e com um pedaço de madeira, com o fio enrolado, iscavam-me um anzol, e toca a deixar cair, junto ao molhe e esperar que mordem-se. Não apanhei nenhum, mas ao nosso lado, saiam a uma velocidade estonteante, tenho ainda na memória, um colega do meu padrinho, com 6 ou 7 anzóis ao longo da linha, e em cada um tinha um sargo. Sei que estou a falar de ilegalidades, mas onde estavam ninguém lá ia fiscalizar, nem que quisessem, para quem conhecer sabe já onde eu estive. Este aparte foi apenas para relatar a minha primeira experiência de pesca.
Há uns anos atrás comprei uma cana de surfcasting, que só usei uma vez, no molhe da Praia do Coral em Viana do Castelo, onde também não pesquei nada, mas em conversa com um pescador, disse-me que fui enganado com o material, que não era mau de todo, mas que paguei muito caro, desanimado, frustado, arrumei tudo em casa e nunca mais pesquei, mas o bichinho sempre esteve lá, adormecido, mas sem alguém que fosse comigo para a pesca, que pudesse aprender, sem saber sequer atar um anzol, a vontade de pescar foi ficando no esquecimento. Até ao dia, em conversa com o meu sogro, sei que adora pescar, pesca já há mais de 60 anos, que vai regularmente á pesca, e durante um almoço de domingo, saboreando as suas histórias e experiências de pesca o bichinho despertou. Disse que iria a pesca com ele, que me ensinaria o que sabia, que me oferecia material que tem para eu pescar, porque com a cana que tenho de surfcasting não era o mais indicado para me iniciar na pesca, nem tão pouco na que quero fazer. Tanto ele como ficávamos entusiasmados com a ideia de irmos pescar juntos, algo que iremos fazer para a semana, se as minhas folgas permitirem.
Mas eu não queria esperar tanto tempo, tinha que mexer numa cana, em isco, sentir a brisa do mar e pescar. Na 4f passada, dia da minha folga, pego no material que tenho e siga em direcção á Loja do Jaime,em Viana do Castelo, de quem o meu sogro é amigo, e que me ajudaria a por a minha cana de surfcasting a pescar a boia, apenas para matar o bichinho. Chego a loja, explico-lhe o que quero fazer, e o Sr Jaime, muito atencioso e com paciência, vai tirando as minhas dúvidas e preparando-me a cana, cujas argolas já começam a ficar oxidadas, aconselhando a lavar a cana com água doce após uma pescaria para que não oxide, explicando o funcionamento da boia ,como montar, ensinou também a atar um anzol entre outras coisas. Levo a cana já pronta, para chegar ao molhe da Docapesca de Viana, só dar um pouco de linha, montar as seções, iscar e estava pronto para pescar. Compro uma caixa de coreana, oferece-me uma tabela das marés, após os agradecimentos pela atenção e disponibilidade do Sr Jaime, despeço-me e ala que se faz tarde, com uma alegria no meu interior por ir pescar, passo num multibanco para tirar a licença e siga para o molhe da Docapesca.
Chegando lá, já vejo vários pescadores, com as canas na mão, alguns a beber umas minis na conversa, porque peixe não estava a sair, e aproveita-se para disfrutar de outros prazeres da pesca, a amizade e o convívio. Por ser um autêntico ignorante nesta arte, não fui para perto,do maior número de pescadores, mas sim mais para trás, num local mais isolado para não estorvar os restantes pescadores, quando vejo um velhote que ali estava a pesca e penso " Vou pedir umas dicas a este velhote, digo que é a primeira vez que venho a pesca ( o que não deixa de ser verdade ) na esperança que me pudessse ajudar" e como pensei disse.
"Oh amigo, eu posso ajudá-lo mas eu já estou de saída, isto não está a sair nada, apanhei dois ou três peixinhos, mas dei-os ao gato"
Para quem conhece o local, existem uns gatos vadios naquela zona, que fazem sempre alguma companhia a quem ali pára e pelos vistos também enchem a barriga.
"Eu sei que esta cana não é a indicada para pescar aqui e muito menos á boia, mas eu só quero entreter-me um bocado."
O Sr. ajuda-me a montar as secções, diz-me como pôr a isca ( que não me convenceu, como dizia para pôr nem um peixe ia apanhar..)e como fazer o lançamento. Agradeço e lá começa o velhote a subir as pedras, com a cana na mão para ir embora,e mais ainda porque já estava em cima um amigo que iria com ele. Entretanto o anzol dele prendeu-se nas pedras, perto de onde estava, e o amigo pediu para o soltar, lá vou eu,a seguir a linha, e encontro o anzol, que consegui soltar facilmente, mas senti-me chocado.. o anzol era minúsculo... julgo que um anzol pequeno tanto poderá apanhar peixes grandes como pequenos, mas pareceu-me um exagero, e quando me lembro do "enchi a barriga ao gato" só me veio uma coisa a cabeça, o peixe era muito pequeno, porque senão ele levaria para casa, não seria melhor devolver a água em vez de dar ao gato? Senti-me desiludido mas cada um sabe de si, e toca a começar a pescar!
Faço um lançamento, tento esticar um pouco a linha, para não estar com muita folga, ponho um dedo na linha e toca a olhar para a boia.A corrente trazia-me a boia para junto do molhe, e quando se aproximava muito, recolhia, via como estava a isca e toca a lançar de novo.A isca estava sempre como nova, estava na esperança de notar a presenca de alguns peixes que fossem depenicando o petisco mas nada, nem toques, nada acontecia, até que deixo a boia aproximar-se mais do molhe, na esperança que eles estivessem mais perto das pedras, quando noto que não se passa nada começo a recolher a linha e algo acontece! A linha estava presa numa pedra! Puxa para cima, puxa para o lado, puxa para mim e nada." Não posso perder a boia, só tenho esta!" Ponho a cana e a linha virada para as pedras, e vou pé ante pé para tentar chegar a boia e puxar a linha, quando distraído enfio uma perna num buraco, arranhando um pouco a perna mas nada que me pudesse deter-me, mas preocupado porque pensei que tinha mesmo que por-me dentro de água para salvar a boia, mas com algum malabarismo, e sem molhar os pés
, consigo puxar pela linha e após dois esticões, a linha partiu no destorcedor. Missão cumprida, boia salva.
Agora é montar outro estralho ( julgo que seja esse o nome), mas com a minha ignorância iria ser complicado atar o anzol e a linha na argola do destorcedor, mas eu tinha alguns anzóis, já empatados, que tinha comprado na altura que comprei a cana, então aproveitei um desses, pus uma bolinha de chumbo, um nó manhoso na argola, um pedaço da coreana no anzol, e já estava a lançar outra vez.
Estive umas 3 horas assim, sem toques, isca sempre perfeita, a segurar na cana ( que já estava a cansar, tornou-se pesada) e sem apanhar nenhum peixe, nem um pouco de limo apanhei!
Arrumo as tralhas, tive alguma dificuldade em desmontar a cana e manter a linha esticada,para a boia e o anzol ( que coloquei numa "roda" de borracha) não andassem aos pontapés pelo chão, e mais ainda dentro do carro. Voltei para casa feliz, com uma paz no meu interior que palavras não conseguem descrever e só fumando 2 cigarros, quando noutras condições teria fumado muito mais, só aqui já fiquei a ganhar, chegando a casa uma lavadela na cana, coreana no congelador e uma vontade de voltar logo que possa!
Nuno Direito
13 de Setembro de 2017