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Os ventos do desatino E ele chegou um dia… O peixe já não dava sinal há alguns dias; os golfinhos não apareceram para cercar o cardume gigante das tainhas que todos os anos chegam a Nouanghar, a sul de Dakla e pelo sol que escurecia de um pó vermelho sangue, os pescadores Imraguem apressaram-se a recolher o peixe dependurado ao sol presos a cabos e cordames aproveitados pelos restos do que o mar dá em dias de sorte… O harmattan atravessa o Sara cheio de poeira vermelha, misto de farinha e fogo.Os marinheiros chamam a este vento vermelho “ Mar de trevas”. E ele chegou um dia…Mestre Candeias já não dava com os bancos de sardinha há alguns dias. Algo está mal..-Exclamou , perscutando o horizonte enquanto o mar estanhado do alvorecer dava continuidade a uma leve brisa que se levantava vindo de Noroeste…. O vento chegou e a cumplicidade dos murmúrios da costa também. É a pronuncia do Norte que exclama em novelos de espuma sarrenta defrontando o molhe Norte em vagas sucessivas que arremessam poeiras de areia que em espiral ferem o rosto, as pernas e os braços e deslocam seres vivos que depois são enterrados em fúrias de colunas de dunas tudo escondendo, tudo absorvendo… O som do lamento corrói as mais duras almas destes dias do desatino. Os taipais são fechados, as redes cobertas de lona plástica presas a pneus carecas de lisos estarem da penúria que se abate sobre as gentes do mar….Os homens esses recolhem ás tabernas e as mulheres ás novenas das tardes depois de recolherem o sargaço seco ao sol e limparem os estendais da roupa que esvoaça como bandos de gaivotas perdidas ao vento comentando suspensas algo no ar como me soa assim…:…”Tenho fome!!Tenho fome!! Vuuuuuu…Vummmm…Vuuuuuuu.. Bate a bandeira vermelha, range os cabos,silva a areia,cospe o homem, brame o mar,corre o banheiro,chora a criança do rajá caído na areia, abraçam-se os namorados, arranca as telhas de zinco do barracão, rola a bola de nívea, foge o papagaio da D.Herminia,!! clamnc!!Calancccc!!. O velho Titan(guindaste) apodrece de ferro forjado a fogo e guincha ferrugento nas dobradiças que estalam a cada onda de vento enrolado…O mundo fechou-se e o vento procura alguém perdido nas ruelas da praia para lhe desatinar o mundo da loucura que possui nestes dias do desatino…. Agora o silencio…ouçam ..novamente…(silencio…)Vuuuuuu,vuuuuuuuuuu,fiuuuuu,clanc,tatatum,plim.plimmm…Durará três , seis ou nove dias esta ausência esperando que mundo se converta pelo vento que leva os murmúrios que sufocam a alma e que tudo levará até a calma de novo chegar… Nota do autor: Todos estes ventos do desatino sopram por todos os lugares do mundo. Um dos mais impressionantes é o bist roz que assola o Afeganistão durante 170 dias sepultando aldeias… ou o Khamsin que assola o Egipto de Março a Maio e dura cinquenta dias ou o -------(sem nome) vento secreto do deserto cujo nome foi apagado por um rei depois de um filho seu ter morrido no meio dele…. Vendo bem as coisas o nosso Noroeste até é bem fraquinho…. Recomendo a leitura das Histórias de Hérodoto, está lá tudo, boas leituras. Autor - António Simões
