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Os robalos e os meus sapatos de vela(2)Vou ao encontro do pescador de fim-de-semana.Boa tarde!!Boa tarde...Como vai??Sabe meu senhor vim pescar um robalo, ouvi dizer que esta noite saiu cá cada um!!Há!! Vou tirar o meu primeiro peixe!!Ai vou sim senhora, que maravilha,um robalo era a minha maior felicidade, ha!Que bom que seria chegar logo a casa com um belo robalo , que bom que seria!! Um pescador sem prática é como uma virgem corada pelo seu corpo que já não controla no seu desenvolvimento hormonal. Aquele homem nunca tiraria um robalo na vida.O seu sonho era o meu. Já não podia voltar atrás... Vá..faça assim..Fiz uma iscada de um rabo de sardinha, fiz o lanço e coloquei a cana na mão do homem.Agora mantenha a linha sempre esticada.-Vê!?? assim.... Foram apenas uns segundos...A cana dobrou, agarro-o pelo braço, num movimento de recuo...Dê-lhe!!! Aí Jesus, Ai Jesus!!Meu senhor, ai minha mãe , ai que peixe!!! Hó homem dê-lhe linha, dê-lhe espaço, vá á frente, vá!!Somos dois agora a pescar o peixe das nossas vidas, jamais me perdoaria a mim mesmo se perdia aquele peixe para o homem e o robalo da sua vida.A confusão gerada pelas vagas e pela ansiedade do pescador carrega o peixe para um rego sulcado , bifurcado aberto na rocha lageada.O homem não para de suplicar á Virgem e á sua mãe.E agora meu senhor , que faço , e agora?? Não tive tempo para mais nada, o robalo apertado em demasia e pelo espumaço fragoso da rebentação, arrebenta a linha e desaparece por momentos.... Olho para dois seres distintos.O homem e o peixe. qual dos dois escolher??Está ali!!Está ali o seu peixe!!O meu peixe, o meu peixinho!!!Num buraco de um metro de profundidade e largura nadava um belo robalo de mais de tres kgs como num carrocel, ás voltas, ás voltas, desesperado por fugir..!!! Largou a cana , sem pensar duas vezes, correu pelo rego,tropeçando e entrou de cabeça pelo buraco.A vaga!!A vaga!!! Não tive tempo de o puxar, fujo com a agilidade de um gato de beiral e estremeço quando a vaga se espraia pelo lageado cobrindo e deixando de ver o nosso homem pescador. Salta-me o coração do peito por não vêr o homem, a agua começa a esvair-se rego abaixo e corro na direcção do homem...Lá está ele!! Calça desabotoada,cueca branca de feira da Srª da Hora, cabeça enfiada no buraco, gesticulando quase sem ar...Levanto-o, pufff!!pufff!!asg!!asg!!reéu réuuuu!!O ...meu.... peixe...asgg,asggg,vomitando ar e agua. O seu peixe!!!Milagre!!!O robalo ainda nada no buraco tranquilamente agora.Atira-se de cabeça novamente para o buraco e a mão do homem desliza pelo lombo daquele magnifico e belo ser. O peixe num assomo de um salmão subindo a corrente, flamejando prata, salta no ar, passa por cima do hombro esquerdo do nosso pescador sonhador de robalos e desaparece na espuma da vaga que ameaçadoramente se aproxima!! Vamos!!Fuja, que vem aí a vaga!!Fuja!! Chegados cá cima, agora o homem limpa a agua que escorre pela testa, nada mais diz, desalinhado dirige-se para o carro chorando como uma madalena. Senhor!! A sua cana(partida)...!!Sniff.., sniff...olha para mim entra para dentro do carro, balbuciando algo que não percebo desaparecendo de seguida... Escurecia, os meus sapatos vela, eram agora uma lástima deslavados sem vaidade e sem soberba.Perdi o peixe, perdi um pescador... Autor - António Simões
