Desabafo

[Claudio Nobre]

Olá a todos, em primeiro lugar quero deixar claro que este texto não é direcionado a ninguém em particular, nem tão pouco a esta casa… não tem mensagens subliminares, e está limpa de qualquer ironia e sarcasmo.

Quanto mais pesco, menos me identifico com a filosofia desta arte!


Muitos anos se passaram desde o meu primeiro contacto,  com esses anos vieram vitória e derrotas, muitas horas com boas companhias, muitas horas sozinho, sempre com um propósito, evoluir, foi a isso que me propus, e a esse propósito sempre lhe juntei o sentimento de amor… pela arte, pela terra, pelo mar, pela vida…

Aquilo que amo na pesca é primitivo, é um regresso às origens, é sentir que também eu pertenço a este mundo e respiro com ele.
A minha paixão pelo desafio fez com que naturalmente cada jornada fosse mais um, assim, evolui pelos meus pés, com as minhas influências e muita gente boa me ensinou muita coisa que eu com o meu querer, fui pôr em prática… eu sou assim! Porém esse facto acabou por significar que talvez me importe demasiado, ou dito de outra forma faz com que eu sinta as dores desta arte como se fossem minhas. Não faz bem à ninguém, não é saudável!

E é aqui que entra a filosofia, se quiserem posso comparar a pesca à nossa sociedade que cada vez se afasta mais das suas origens e caminha em direção a sabe – se lá bem onde… Aquilo que nós todos acabamos  por fazer ao longo do tempo foi tornar a arte num baile de máscaras em que quem apanha mais, tem mais, ou maior é automaticamente melhor do que outro… o saber, o evoluir na arte e na vida, no fundo crescer, não falo em crescer em tamanho nem evoluir na vida para ser doutor… falo de crescer como pessoa e evoluir como ser humano.

Não entendo a competição entre seres humanos, nem tão pouco consigo tirar prazer num sentimento de vitória sobre um peixe, por maior que ele seja, as vitórias que esta arte me trouxe foram sempre sobre mim próprio, e reconhecer que hoje sei mais do que sabia ontem sempre foi o meu conforto nos bons e nos maus dias. Aos animais que pelo caminho tive a sorte de capturar e saborear, por esses apenas sinto respeito.

O que vejo a minha volta é gente que acha que por saber onde alguém pesca vai ser tão bom quanto ele, gente que não sente amor nem respeito pela arte… não a compreendem, eu entendo… também sou incompreendido. Gente que não se preocupa em aprender ou evoluir, muito menos cuidar. Gente para quem o mais importante é dizer eu matei 20, independentemente de se esses 20 foram mortos pela arte ou com dinamite, o importante é dizer… EU MATEI 20, e encher bem o peito. Estes comportamentos em relação a algo que é tão meu, sem que por ela tenha qualquer sentimento de posse, revoltam – me, mas mais do que isso entristecem – me… E hoje consigo assumir sem vergonhas que já chorei pelo destino deste amor como não chorei por alguns de carne e osso.

Este é o meu lamento, partilho convosco já sem esperança que estas palavras façam diferença, mas acredito que possam tocar alguém.

[A Machado]

Absolutamente de acordo.

[Alex64]

Muito bom post
vivemos numa sociedade em que o adagio :" muito tens muito vales, nada tens nada vales" e moeda corrente (infelizmente)
Um grande bem haja pela tua partilha

[VF]

Gostei de ler Cláudio! 

Será caso para dizer que quanto mais se conhece as pessoas mais se gosta dos animais!

[Beto_Manja]

Boas,

Bom texto e boa mensagem

Quem por cá anda já sabe que tem de levar com os "pecados mortais" do Homem, não há volta a dar, resta passar e sair desta vida com a dignidade possível.

[meritoon]

Boas.
Excelente reflexão, e um bom desafio para agitar consciências.

Abraço
JM

[João Pinto]

e nem imaginas o que "Wanna be" que por aí existem, pessoas com dois ou três anos de pesca que se auto intitulam de profissionais oferecendo os seus serviços ás marcas e para isso pisam ou tentam pisar tudo e todos incluindo quem lhes ensinou a pescar, mas não tem a ver com pesca, tem a ver com o ser humano ser assim e não será por ser pescador que esse ser humano melhora

[De La Hoya]

  muitos parabéns pelo texto, partilho a tua filosofia

[Alexandre Manuel]

Não gosto nem digo e nem se quer quero pensar que sou melhor que alguém, e apenas por essa razão me levou à conclusão que a melhor maneira de melhorar a qualidade humana é ensinar os meus descendentes o melhor que sei e com todas as forças esconder-lhes as minhas fraquezas.

Obrigado Claudio Nobre.

[Pedroko]

É verdade e é uma tristeza mas já assim é há muito tempo. O que há a fazer é ser fiel aos nossos principios e aos nossos valores 

[FilipePC]

Olá a todos, em primeiro lugar quero deixar claro que este texto não é direcionado a ninguém em particular, nem tão pouco a esta casa… não tem mensagens subliminares, e está limpa de qualquer ironia e sarcasmo.

Quanto mais pesco, menos me identifico com a filosofia desta arte!


Muitos anos se passaram desde o meu primeiro contacto,  com esses anos vieram vitória e derrotas, muitas horas com boas companhias, muitas horas sozinho, sempre com um propósito, evoluir, foi a isso que me propus, e a esse propósito sempre lhe juntei o sentimento de amor… pela arte, pela terra, pelo mar, pela vida…

Aquilo que amo na pesca é primitivo, é um regresso às origens, é sentir que também eu pertenço a este mundo e respiro com ele.
A minha paixão pelo desafio fez com que naturalmente cada jornada fosse mais um, assim, evolui pelos meus pés, com as minhas influências e muita gente boa me ensinou muita coisa que eu com o meu querer, fui pôr em prática… eu sou assim! Porém esse facto acabou por significar que talvez me importe demasiado, ou dito de outra forma faz com que eu sinta as dores desta arte como se fossem minhas. Não faz bem à ninguém, não é saudável!

E é aqui que entra a filosofia, se quiserem posso comparar a pesca à nossa sociedade que cada vez se afasta mais das suas origens e caminha em direção a sabe – se lá bem onde… Aquilo que nós todos acabamos  por fazer ao longo do tempo foi tornar a arte num baile de máscaras em que quem apanha mais, tem mais, ou maior é automaticamente melhor do que outro… o saber, o evoluir na arte e na vida, no fundo crescer, não falo em crescer em tamanho nem evoluir na vida para ser doutor… falo de crescer como pessoa e evoluir como ser humano.

Não entendo a competição entre seres humanos, nem tão pouco consigo tirar prazer num sentimento de vitória sobre um peixe, por maior que ele seja, as vitórias que esta arte me trouxe foram sempre sobre mim próprio, e reconhecer que hoje sei mais do que sabia ontem sempre foi o meu conforto nos bons e nos maus dias. Aos animais que pelo caminho tive a sorte de capturar e saborear, por esses apenas sinto respeito.

O que vejo a minha volta é gente que acha que por saber onde alguém pesca vai ser tão bom quanto ele, gente que não sente amor nem respeito pela arte… não a compreendem, eu entendo… também sou incompreendido. Gente que não se preocupa em aprender ou evoluir, muito menos cuidar. Gente para quem o mais importante é dizer eu matei 20, independentemente de se esses 20 foram mortos pela arte ou com dinamite, o importante é dizer… EU MATEI 20, e encher bem o peito. Estes comportamentos em relação a algo que é tão meu, sem que por ela tenha qualquer sentimento de posse, revoltam – me, mas mais do que isso entristecem – me… E hoje consigo assumir sem vergonhas que já chorei pelo destino deste amor como não chorei por alguns de carne e osso.

Este é o meu lamento, partilho convosco já sem esperança que estas palavras façam diferença, mas acredito que possam tocar alguém.

Pessoalmente só espero que estejas melhor. E que tenhas recuperado o teu equilíbrio. Espero que sim. E que seja feliz, seja a fazer o que mais gostas, entendendo que a vida pede equilíbrio e gestão. Um abraço.

[ClaudioP]

Desabafo espectacular. Parabens por teres colocado por escrito alguns dos meus pensamentos ao longo destes anos da arte, pois também são as minhas origens. Mencionaste um factor que para mim é uma das minhas principais condicionantes à escolha das minhas parcerias de pesca:
"Não entendo a competição entre seres humanos, nem tão pouco consigo tirar prazer num sentimento de vitória sobre um peixe, por maior que ele seja, as vitórias que esta arte me trouxe foram sempre sobre mim próprio, e reconhecer que hoje sei mais do que sabia ontem sempre foi o meu conforto nos bons e nos maus dias. Aos animais que pelo caminho tive a sorte de capturar e saborear, por esses apenas sinto respeito."

A competição... seja ele por peixe, seja por equipamento XPTO ...não há necessidade quando vamos conviver e partilhar alguns bons momentos com paisagens bonitas como pano de fundo, fomentando-se ou fortalecendo amizades.

O importante é continuarmos com aquela vontade de satisfazer um dos nossos prazeres mais primitivos: a pesca, aproveitando-se o que de bom conseguimos agregar à arte.

[Hermano]

Obrigado pela partilha. Se a pesca e o contacto com a natureza e os amgos que se fazem não nos tornam mais PESSOA, mais maduros, então mais vale ir busca-los à peixaria!

[dpeneireiro]

Eu vejo que há efetivamente uma grande competição... há sempre alguém que te diz "pfff eu já tirei maior que isso", minimizando a tua alegria por teres tirado algo em condições excecionais.
A luta de uma dourada de 1,2Kg com um fio 0,22 é para mim comparável à luta de uma dourada de 2Kg com um 0,40. Não minimizando ou menosprezando quem pesca de uma ou outra forma, considero tanto "trofeu" uma como outra, mas vem sempre alguém dizer: "pfff isso é alguma coisa, eu tirei uma de 2Kg ainda há dias" minimizando o facto de ter sido uma façanha difícil, pelo estado do mar, pelo fundo de rocha com mexilhão, pelo diâmetro da linha, pelo estralho o,25 de fluoro... para essa malta nada disso conta, se tirarem uma de 2 Kg de um aquário... isso sim é uma façanha pois é 800gr mais pesada. Enfim, por isso se vê por aqui que muita malta omite pesos e tamanho dos peixes nos relatos... por isso mesmo, vinha sempre uma alminha dizer: "olha que eu já tirei um muito maior e não era assim, era mais gordo, ou mais cabeçudo ou...".

Essa malta não sabe dar o valor "à pesca".

Vê-se também no material... conheço muitos que gastam rios e mundos só para poderem dizer que o teu é muito mais fraquinho que o meu, e isso não presta para nada, como se o hábito fizesse o monge. Felizmente sempre me alheei a essa malta e pesco com pessoal porreiro, e muitos deles, graças à vida que podem, têm material de topo que deixam experimentar, que emprestam, e usam sem manias nem peneiras...

E felizmente ao longo da vida tenho mesmo muitos amigos com quem gosto de partilhar as parcas vezes que consigo ir à beira de água... e esses sim fazem valer a pesca pelo prazer e companhia de estar com eles. E com eles também há sempre competição:
Hehe já estou dois à frente - Olha mas ele tem um piça, e esse vale por três - pois é, piças é lá com ele... ele é que é o especialista.

Enfim. Cada um encara o que faz do seu modo... eu encaro a pesca como um estar na vida. Felizmente vejo aqui muita malta que compartilha esta visão...

Boa reflexão, obrigado.

Abraço

[duas]

Também não gosto de sentimentos bélicos contra os peixes, coitados.