Ainda há Domingos perfeitos

[jmet]

Estávamos numa acalorada discussão sobre as contratações do Benfica e do FC do Porto quando chegámos a Pegões, onde parámos, para o António comprar pão. Depois, ala que se faz tarde até Vendas Novas. Aqui, nova paragem técnica, para umas bifanas rematadas com os respectivos cafés.
E lá continuámos, tagarelando, até chegarmos a S. Cristóvão, localidade ainda adormecida e engalanada a preceito para as festas locais. Foi uma mera passagem em direcção à estrada de terra batida e, depois, às semi-escalavradas veredas que nos levariam à beira de um troço da Barragem do Pego do Altar.

O João e o Zé encaminharam-se imediatamente para um troço da margem escarpadíssimo e pedregoso, onde só muito a custo se equilibraria o panier. Mas, enfim, são camaradas que, por norma, preferem pesqueiros esquisitos e instáveis mas onde a pescaria é quase sempre compensadora.
Eu e o António instalámo-nos num troço de declive mais suave, optando pelo conforto em detrimento de pescarias mirabolantes. Isto mais no meu caso do que do meu parceiro, cujo objectivo (antecipadamente garantido, independentemente do local) era fazer dois ou três quilos de abletes, para umas fritadas com molho de escabeche.

O céu nublado dispensou a montagem dos chapéus e o vento era perfeitamente suportável.
No final da pesca, o João e o António deram conta de fartas carpas e alguns barbos pescados. O António mostrou a geleira repleta de abletes. E eu confessei ter apenas ter facturado meia dúzia de carpitas e um respeitável barbo de aproximadamente um quilo e meio.

-Pois é! - Exclamou o Zé. – Você despreza os pesqueiros onde dá peixe... Eu não lhe disse para ficar perto de mim?
- Amigo Zé, eu não venho para nenhuma penitência. Para isso já me bastaram as provas quando andava na competição. Eu agora quero é entreter-me com um mínimo de conforto. E não estou nada arrependido da minha opção.

O café pós-pescaria foi em S. Cristóvão, que tinha arranjos florais e bonecas de pano penduradas nas portas das casas imaculadamente brancas.
O regresso foi uma tagarelice pegada. O João rememorou pescarias passadas. O Zé, que enquanto conduzia, junto à barragem, ia decifrando os nomes da passarada diversa com que nos cruzávamos, insistiu em continuar a mostrar os seus conhecimentos da avifauna. O António relembrou episódios pícaros em terras de Vera Cruz, sentenciando amiúde: - As brasileiras são o máximo! Querem é “funcionar”. - (Em boa verdade utilizou um outro vernáculo que não vou reproduzir aqui, pois isto é um fórum decente). E eu contei umas histórias do tempo em que as secções de pesca dos clubes fretavam camionetas para levarem os pescadores aos seus concursos internos.

Já em Lisboa... contas. Sete euros a cada um. Depois, “até amanhã e lá para o meio da semana logo combinamos a próxima”.

- Então, a pescaria, foi boa? - É sempre boa, amigo Vítor. – Disse eu para o meu parceiro de sueca, enquanto distribuía apertos de mão, à noite, no clube.

Já em casa, na hora de me entregar nos braços de Morfeu, ainda mais confortado com a vitória do meu querido Sporting na Taça de Honra, disse para comigo, a olhar para o gato, já enroscado aos pés da cama. - Ainda há Domingos perfeitos.


 

[Nelson Peres]

É com muito gosto que li mais esta bela história 

[joaomiguelc.rocha]

Muito bom de se ler parabéns e que tenha muitos mais domingos assim,

Nada melhor do que o tempo passado a fazer o que gostamos, os peixes vêm por acréscimo é a lição que tiramos deste bonito relato.

[João Pinto]

Muitos parabéns pela pesca e como o compreendo, a certo ponto perdi o "stress" de ter que apanhar peixe, esse stress foi embora quando o comecei a devolver, parece que um peso saiu de cima de mim, não sei explicar mas dou-me por super satisfeito estar junto ao rio ou ao mar com a cana de pesca, o resto é paisagem...

[joaomiguelc.rocha]

Muitos parabéns pela pesca e como o compreendo, a certo ponto perdi o "stress" de ter que apanhar peixe, esse stress foi embora quando o comecei a devolver, parece que um peso saiu de cima de mim, não sei explicar mas dou-me por super satisfeito estar junto ao rio ou ao mar com a cana de pesca, o resto é paisagem...

O stress não vai embora por devolver, vai com a nossa forma de compreender e respeitar a natureza, conhecer o ciclo natural e fazer com que o mesmo se mantenha inalterado pois só assim podemos viver em harmonia com o que nos rodeia.

Eu não deito todo o peixe ao mar assim como a maioria dos nossos colegas aqui do forum, o que apanho é para mim para comer com a família, amigos, mas tenho como espírito ao sair a cada jornada eu saio para estar relaxado num bom momento junto ao mar a fazer o que gosto, se apanhar peixe melhor....depois o peixe que apanho confesso que não respeito as medidas de lei.....devolvo ao mar praticamente todo o peixe que esteja na medida "certa", só um pedaço acima é que meto na geleira, vai da forma como nós compreendemos e aprendemos a respeitar, e não de qualquer outra coisa, o deitar ao mar não devia ser lei...a lei devia ser meter as pessoas a estudar e assim iam compreender e depois já não era necessário haver medidas, havia respeito e leis morais...mas isto seria num mundo perfeito.

Abraço

[João Pinto]

Muitos parabéns pela pesca e como o compreendo, a certo ponto perdi o "stress" de ter que apanhar peixe, esse stress foi embora quando o comecei a devolver, parece que um peso saiu de cima de mim, não sei explicar mas dou-me por super satisfeito estar junto ao rio ou ao mar com a cana de pesca, o resto é paisagem...

O stress não vai embora por devolver, vai com a nossa forma de compreender e respeitar a natureza, conhecer o ciclo natural e fazer com que o mesmo se mantenha inalterado pois só assim podemos viver em harmonia com o que nos rodeia.

Eu não deito todo o peixe ao mar assim como a maioria dos nossos colegas aqui do forum, o que apanho é para mim para comer com a família, amigos, mas tenho como espírito ao sair a cada jornada eu saio para estar relaxado num bom momento junto ao mar a fazer o que gosto, se apanhar peixe melhor....depois o peixe que apanho confesso que não respeito as medidas de lei.....devolvo ao mar praticamente todo o peixe que esteja na medida "certa", só um pedaço acima é que meto na geleira, vai da forma como nós compreendemos e aprendemos a respeitar, e não de qualquer outra coisa, o deitar ao mar não devia ser lei...a lei devia ser meter as pessoas a estudar e assim iam compreender e depois já não era necessário haver medidas, havia respeito e leis morais...mas isto seria num mundo perfeito.

Abraço

Sim, compreendo isso, muitos dos meus amigos levam peixe no mar, o meu pai leva e nem por isso gosto deles menos, para mim resultou aquela forma

Tenho o mesmo respeito quer levem ou não desde que com consciência nos tamanhos, na embarcada levo pois regra geral tem tamanho tudo o que lá vem debaixo e subir a abrir chegam cá acima com uns olhões enormes

[luisfgpinto]

bom relato de pesca e foi um dia bem passado na companhia dos amigos.
Já agora em que zona da barragem foram pescar, é uma barragem que estou para experimentar muito em breve e não conheço nada da mesma, qual o local que me aconcelharia para tirar uns peixinhos e de ver que vou levar o meu filhote de 5 anos, por isso também não deve ser um lugar perigoso, aguardo a sua opinião.
continuação de boas pescarias

[Beto_Manja]

Boas,

Que bom voltar a ler uma história deste nosso amigo!

Espero sinceramente que tenha uma base de factos reais, pois quem demonstra tamanha paixão pela pesca, merece de facto domingos destes de pesca

Obrigado pela partilha

[De La Hoya]

Amigo Jmet e esperemos que continue haver por muitos anos...boa historia, obrigado pela partilha

[jmet]

Amigo Luísfgpinto

Perante o que me diz, esqueça Pego do Altar. Aquilo é muito duro (à beira da água) e os caminhos sao talhados para jeeps.

Vá antes para a barragem Trigo de Morais (também conhecida por Vale de Gaio), junto ao paredao. É mais ou menos na mesma zona e os pesqueiros sao muitíssimos mais cómodos e nao tem que andar por veredas escalavradas. O carro fica no alcatrao.


Amigo Beto Manja

A história é 100% real.

Um abraço aos dois.

[luisfgpinto]

diga-me uma coisa, junto a Stª Suzana o terreno não será melhor, pelo que vejo nas imagens do google aparenta isso e vêm-se carros junto à àgua, o que me diz ou será que a barragem é toda encarpada e com veredeas.
A de trigo morais não tem abletes, que era para o miudo se divertir ou tem, é que não conheço pessoalmente as duas barragens.

[Beto_Manja]

Boas

Amigo Beto Manja

A história é 100% real.

Ainda bem que assim é.
Sabe que o dom natural que demonstra ter para a escrita, em particular romances e comédias, por vezes confunde-me e fico sem saber onde acaba a realidade e entra a ficção...
Parabéns, não só pelo domingo perfeito mas também, por um relato perfeito

[jmet]

Amigo Luisfgpinto

Em Santa Susana a parte mais acessivel 'e muito espraiada. Um pouco mais para a adireita, onde 'e mais funda, tem o mesmo problema.

A Barragem Trigo de Morais tem tantas ou mais abletes que o Pego do Altar.

Nao hesite - Trigo de Morais.

Cumprimentos.

[Camarum]

Mas que domingo tão bem descrito.

Obrigado