Pesqueiro
Pesca em Geral => Histórias & Escritos => Tópico iniciado por: ladarios em 14:06 Quinta, 27 de Agosto de 2020
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Jornada de pesca
Jornada de aventura com início ainda de noite, talvez quatro ou cinco da manhã. Sigo pela praia adiante subindo e descendo dunas a perder de vista. Olho o céu, as estrelas, o luar. De vez em quando apercebo-me de uma estrela cadente e de imediato penso num desejo. Sempre o mesmo. Um desejo que é segredo. Segredo meu que não digo a ninguém. Sorvo o ar fresco da noite, misturado com o odor do mar, do selvagem, do mistério, da aventura. Caminho sem parar, mochila e canas às costas. O meu coração vai em sobressalto. Misturas químicas no meu sangue dão-me sensações únicas que me inebriam a alma e penso, isto é viver. Viver é sentir uma chama a arder intensamente, viva e quente… uma chama alimentada por um combustível potente, capaz de fazer explodir o universo. Medo? Que é dele? Está misturado e diluído na química do sangue emprestando-lhe um tempero bom, tempero de sal, picante da vida.
O cansaço foge com medo de tanta vontade e chegam forças, a cada passo, a cada sorver de ar, a cada sentimento de alma. E fico leve… os meus pés mal tocam a areia, apenas o necessário para a sentir, sentir como é fofa, macia e amiga.
Sonho…
Olho o mar, tentando descortinar pesqueiros através da brancura da espuma causada pela rebentação das ondas. Mas levo em mente um destino prévio, um feeling, uma intuição… isto é viver…sentir, intuir, adivinhar, perceber a natureza. As aves marinhas, que não descansam, passam voando lentamente, em silêncio, como se não quisessem interferir no sossego da noite. Apenas algumas, umas aves pequeninas, pouco maiores que pardais, esvoaçam perto de mim assobiando, à conversa comigo, tentando ensinar-me segredos do mar e das dunas. E eu escuto-as atento, não perdendo um voo, um assobio. E sinto-me mais sábio.
Escolhido o pesqueiro, pouso as tralhas na areia e preparo as canas. Olho o céu de novo, olho o mar, escuto o barulho das ondas. Caminho de cana a cana, pousadas em espetos de inox bem cravados na areia. Olho as ponteiras, esperando a cada momento por nova emoção. Estou sozinho, eu e as canas, eu e a mochila, eu e a merenda que hei-de saborear mais tarde, eu e a noite, eu e o mar… eu e os sonhos que todos os pescadores têm, mais os sonhos de um sonhador como eu.
A pouco e pouco, aclara o dia, e a, certa altura, acontece o milagre. O Sol, timidamente, aparece por detrás das dunas que escondem segredos e mistérios. E tudo se torna dourado, bonito, fascinante como as paisagens dos contos de fadas.
E eu penso que aconteça o que acontecer, este momento é meu, já cá canta, ninguém mo tira…
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Bonito texto.
A pesca é algo mais que tirar xis ou ipsilon peixes... Como o amigo bem ilustrou.
Fez-me lembrar, uma vez, quando me pus a contar uma pescaria à minha irmã. Fui descrevendo a pacífica viagem de ida, o tempo óptimo, a beleza do local de pesca, a companhia das aves, a excelência da companhia do meu parceiro de pesca, o belo petisco que partilhámos no fim da jornada, a descontraída viagem de regresso...
E terminei:
"Ah, é verdade, não pescámos nada. Mas isso... Isso é apenas uma pequena parte do grande sortilégio da ida à pesca. O resto foi tudo
espectacular."
Um abraço e continuação.
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É isso mesmo... A pesca é algo mágico que nos faz esquecer todos os problemas e nos transporta para um mundo só nosso, feito à medida onde experimentamos emoções únicas... Há alguns anos atrás, eu e um meu irmão estavamos a almoçar o nosso pequeno farnel na margem de um ribeiro de trutas (nesta altura pescava mais nos rios do que no mar)... Era um de março, um dia de sol, as águas cristalinas a correr, o barulho suave das folhas ao dançarem com o vento, a calma da paisagem verdejante e, subitamente, sentimo-nos extasiados e só conseguíamos dizer: estar aqui é mil vezes melhor do que estarmos no melhor hotel de 5 estrelas... Se pescamos alguma coisa ou não é acessório... Quando era miúdo, juntáva-me com alguns amigos e, munidos de fisgas, íamos à caça. Que me lembre, nunca caçámos nada, mas isso nunca invalidou o prazer imenso, aquele sentimento de aventura, aquela energia a querer saltar-nos do peito que sentiamos em todas as vezes que iniciávamos uma nova jornada por montes, campos e quintais...
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Bom dia e obrigado Ladarios por este excelente relato.
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Muito bonito, parabéns e mantenha-se com esse espirito. :D :)
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por do sol e nascer do sol sao os momentos mais especiais