Pesqueiro

Pesca em Geral => Histórias & Escritos => Tópico iniciado por: Victor Teixeira em 11:44 Sábado, 03 de Novembro de 2018

Título: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: Victor Teixeira em 11:44 Sábado, 03 de Novembro de 2018
Bom dia.
Deu me para de uma forma sucinta falar sobre toda esta cronológica evolução relacionada com a pesca.

Foi o meu saudoso Pai, que me incutiu o gosto pela pesca desde miúdo, a dar nós, que anzol usar, linha .. Vivendo perto do rio Douro, e tendo ele vários amigos pescadores, lá íamos de manhã bem cedo no barco emprestado a remar,  com o nevoeiro a cobrir tudo à nossa volta, eu... Limitava me a ir sentado a observar o momento ansioso que a âncora fosse lançada.
O material do meu pai... Canas feitas por ele por partes, com as chamadas canas da Índia... Ainda me lembro da marca dos carretos, Shakespeare. Chumbadas também feitas por ele, linhas de nylon que lhe davam os pescadores, acho que só comprava os anzóis. .
O meu material... Sim, era isso. Um pedaço de cortiça com linha enrolada, o chumbo e o anzol. Pescar a prumo! Querem saber? Pequenito, pescava tanto ou mais que ele a puxar os robalos para cima à mão! Era uma alegria! Só mais tarde tive como presente uma canita de fibra adequada ao meu tamanho... Felicidade estampada naquele dia!
Os iscos... A tradicional bicha que na maré vazia me entretia a escavar, e a pulga a revolver a areia. Já não se vê como antigamente, acho que até se "extinguiu"
. No meio disto tudo, encontrava anzóis, chumbadas nas rochas que guardava como se fossem tesouros, para depois usar.
Grande parte das vezes era o dia inteiro a pescar, com almoço no barco. Nesse tempo já me incutia a regra de que peixe fora da medida era devolvido  a respeitar e agradecer o que pescavamos. Acreditem, nada como hoje, muito raramente havia grades, desde barco ou apeada. Traziamos muito pescado, maioria eram os robalos e algumas tainhas de pinta amarela, que dizia serem as boas para comer, nem sei se ainda existem. Dava para nós e para a vizinhança, que ele fazia questão de dar, distribuir... La ia eu todo contente ;. Fui eu que pesquei!
Que belas caldeiradas ele fazia... Parece que ainda sinto o cheiro e paladar... Saudade.

Meus amigos, hoje discutimos como é natural, dada tanta oferta no mercado de materiais, utensílios, canas, carretos.. Etc, etcs. Qual o melhor, o pior, valores, marcas, tamanhos, iscos...
Pergunto me... Será que, com apenas nylon enrolado numa cortiça, canas feitas à mão, como as do meu Pai, actualmente, não teríamos resultados que pretendíamos? OK.. Já sei que um carro de 1910 não é o mesmo que um de 2018. Eram outros tempos, certo. Concordo. Para terminar, se conseguiam com o que tinham, penso que nós também.
Mas a evolução é assim mesmo, apaga o passado mas jamais as boas memórias.
Desculpem tanta leitura.

Cumprimentos a todos.



Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: Nelson Peres em 14:08 Sábado, 03 de Novembro de 2018
Adorei ler   :sim: =D> :fixe:

A pesca que eu fazia antigamente sofreu uma evolução, mais nos material a usar. Hoje há de tudo, tudo é pensado ao pormenor e a oferta não acaba, o poder do dinheiro é assim. Uma coisa parece-me evidente, antigamente havia muito mais peixe e apanhava-se de toda a maneira. Nos dias de hoje, o meu pai ainda faz determinados tipos de pesca com a linha na mão com o mesmo sucesso ou insucesso que qualquer tipo de material de topo faz. Naturalmente prefiro os dias de hoje, mas tal como tu, olho para trás com respeito, orgulho e muita nostalgia.
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: Zé João em 14:29 Sábado, 03 de Novembro de 2018
A minha primeira cana, foi feita por mim. Fui roubar uma cana da índia e construía toda, o carreto foi comprado, um Sofi.
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: Rui P. Dias em 15:11 Sábado, 03 de Novembro de 2018
Felizmente as memórias ficam! Espero que um dia também o meu filho tenha tão boas memórias sobre a pesca como eu tenho dos meus primeiros lançamentos!

As minhas primeiras pescarias faziam se com cana da Índia e sem carreto. Pescava-se a sentir. Era cana, linha, anzol e duas ou três chumbadas de corte pequenas e estava feito!
E às vezes eram noites inteiras a tirar carapaus! E tardes inteiras a fazer petiscos ao fogareiro!

Quanto as tainhas garrentas (as tais com a pinta amarela) ainda existem...são raras pelas minhas bandas mas há um mês atrás tirei uma na fonte da telha. O meu puto que tem 4 anos estava comigo e foi ele que enrolou a linha nos últimos metros de água. Ficou tão eufórico que chegou a casa e me obrigou a grelha-lá naquele dia. Marchou toda! Desde aí quer ir comigo a pesca sempre que vou...mas ainda não tem idade para tal... espero que mantenha o bichinho para continuar a ir comigo quando eu já não tiver força para carregar o material :D

Parabéns pela rua bonita história!
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: PedroMrDias em 11:28 Domingo, 04 de Novembro de 2018
Victor, obrigado por esta partilha.
Gostei de ler, o texto é nostálgico e mostra a saudade que tens dessa altura.
Os materiais e as técnicas mudaram, mas essas memórias permanecem.
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: antoniopereira em 09:03 Segunda, 05 de Novembro de 2018
Boas . Quando casei há  39 anos quando ia passar  a Páscoa há terra dos meus sogros lembro-me de ir ás enguias . Ía a há minhoca de estrume arranjava uma agulha , enfiava uma a uma  numa linha  aí com 1 metro, arranjava uma cana dessas dos canaviais enrolhava-mos esse fio na cana  e íamos  a  elas . Chamava-se a esta pesca ir há sartela. Hoje não se pesca assim, é tudo com caninhas . Belos tempos. Era mais divertido na altura
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: De La Hoya em 14:17 Segunda, 05 de Novembro de 2018
Vitor, e que saudades desses tempos e da minha primeira cana da india, que o meu falecido tio me deu, as coisas tinham outro cheiro e outro sabor ;) gostei mt de ler amigo :aplau: :aplau:
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: Ernesto Lima em 14:25 Segunda, 05 de Novembro de 2018
Bom dia Victorppt

Muito bom texto. Era assim que acontecia..., dessa forma por aí e de outras formas, com os mesmos conceitos, em outros lugares do país.
O material era o que havia e usava-se até à exaustão, recuperando-se quando algo se partia, ou, até se perder.

As facilidades actuais ajudam, mas, em muitos casos, não fazem melhores pescadores.

Quanto a gastos com materiais..., é a loucura!

Muitas vezes se troca, ou se coloca de lado, sem sequer experimentar seriamente, ou tentar adaptar-se ao que já se tem.

Penso que o equilíbrio estará algures no meio de todos estes conceitos..., os que estão contidos na sua história e os actuais.

Por tal, obrigado pela história.

Cumprimentos

Ernesto
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: 007kil em 15:27 Segunda, 05 de Novembro de 2018
Boas.
Obrigado por essas recordações que me trazem também à minha memória esses tempos de há 30 anos atrás quando comecei a pescar no rio Douro. Usava uma cana direta de 6 metros com boiao ou boia fixa e apanhava o camarão ai no rio com uns sacos feitos com restos de calças de ganga que eram esfregados com sardinha colocar na agua e passado uns minutos vinha carregado de camarão que era colocado num recipiente com serrim  e assim se aguentava toda a noite. Agora penso que nem camarão existe no rio. Também ainda cheguei a pescar com pulga que iamos apanhar para os lados de Leça de noite. Qualquer dos iscos dava resultado.
Dificilmente era o dia em que era grade, agora dificilmente é o dia em que não é grade  ;D ;D ;D., por isso acho que a tecnologia não veio ajudar muito os pescadores, mas sim as casas de pesca.
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: De La Hoya em 11:55 Terça, 06 de Novembro de 2018
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Boas.
Obrigado por essas recordações que me trazem também à minha memória esses tempos de há 30 anos atrás quando comecei a pescar no rio Douro. Usava uma cana direta de 6 metros com boiao ou boia fixa e apanhava o camarão ai no rio com uns sacos feitos com restos de calças de ganga que eram esfregados com sardinha colocar na agua e passado uns minutos vinha carregado de camarão que era colocado num recipiente com serrim  e assim se aguentava toda a noite. Agora penso que nem camarão existe no rio. Também ainda cheguei a pescar com pulga que iamos apanhar para os lados de Leça de noite. Qualquer dos iscos dava resultado.
Dificilmente era o dia em que era grade, agora dificilmente é o dia em que não é grade  ;D ;D ;D., por isso acho que a tecnologia não veio ajudar muito os pescadores, mas sim as casas de pesca.


Fernando, ainda há camarão, mas não cm havia, e de salientar que o serrim tinha de ser de pinho :)
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: Victor Teixeira em 13:20 Terça, 06 de Novembro de 2018
Obrigado malta pela vossa colaboração e textos.
De facto, quem teve experiências desde miúdo com este "vício", guarda sempre memórias, e muito mais se teria a contar, é sempre bom ler relatos desses tempos... Uma nostalgia saudável.

Cumprimentos.
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: Joaol em 12:06 Quarta, 07 de Novembro de 2018
Bem eu não sou de tempos tão antigos, nem filho de pescadores ou familiar tão pouco, mas quem me introduziu o bichinho da pesca foi também o meu pai.
Comecei a fazer umas pescas com ele no rio, mas coisas muito esporádicas, a primeira vez que fui com ele não devia ter mais de 6 anitos à 18 anos mais coisa menos coisa, mas lembro-me como se fosse hoje, e lembro-me perfeitamente que fiquei muito entusiasmado sem tão pouco ter ido ainda, foram dias a pensar naquilo, mais tarde comecei a ir mais vezes com um tio que era mais aficionado que o meu pai, e ainda hoje é, o meu pai já não tem paciência para aquilo. Pescava com canas de fibra nem tão pouca sabia o que era outra coisa, no rio com a típica mola com engodo e uns asticot, tantas enguias se apanhavam. Mais tarde comecei a fazer umas pescas no mar por vezes de noite até e aos 12 anos fiz a primeira e única embarcada, não dormi uma hora sequer tal era a ansiedade. O material e os conhecimentos são outros, as coisas também assim o obrigam, a abundância não é de todo a mesma, no Açores por exemplo continuam a ser apanhados sargos num porto de abrigo qualquer com aguas quase a espelhar com um 0.40mm, e sargos grandes, mas não é o material que me trouxe as maiores mudanças.

Ao contrário de muitos não guardo boas recordações, quando comecei a ficar mais maduro e passar a ver o relato de pescadores na net completamente desconhecidos percebi o quão errado tudo o que me foi passado estava. Lembro-me perfeitamente do tempo em que se pescava dentro dos portos de abrigo/marinas, e de ver montes de gente com caixas de esferovite cheias de agua com dezenas de sarguinhos pouco maiores que moedas de 2€, lembro-me de arcas cheias de sargos do tamanho de notas de 10€, lembro-me de carradas de lixo deixadas em todo o lado e tanto mais coisas....
Passei por uma geração que não respeitava nada, e o peixe era tão mais abundante, qualquer 0.35 num pontão qualquer e mar de meio metro e uma boia de 30 ou 40gr dava sargos. Deixa-me triste muito daquilo que vi, felizmente que também muito cedo me desprendi de maus hábitos e costumes e hoje repugno tanta mas tanta coisa, mas também fico muito feliz de ver que as coisas estão a mudar, e que em gerações futuras possa vir a ser muito melhor, não querendo desrespeitar ninguém mas muitas vezes os mais velhos e com maus costumes são os piores e não vão mudar nunca.

Fico grato por todos os bons relatos e boas condutas que li no sitio do pescador e por todos aqueles que vou lendo por aqui, se não fosse tudo de bom que fui aprendendo com desconhecidos através de relatos escritos nunca me tinha tornado no que sou hoje!

Um abraço

 
Título: Re: Outros tempos... E a actualidade.
Enviado por: kalvas em 15:49 Sábado, 10 de Novembro de 2018
Todos nós que pescamos há muito nos lembramos dessas recordações.
O tempo faz-nos lembrar os melhor da pesca sobretudo aquando da infância.

São outros tempos mas não sei se agora serão melhores.

É bom recordar. :D