Pesqueiro
Pesca em Geral => Histórias & Escritos => Tópico iniciado por: Jmiguel em 10:58 Quinta, 10 de Maio de 2018
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Verão 2002
O meu pai, por iniciativa própria, decidiu tornar-se pescador de férias quando visitávamos a terra da minha avó, Rogil, em plena Costa Vicentina. Eu, com apenas cerca de 12 anos, aos poucos fui indo com ele. Algo desastrados, com muito pouca experiência, iamos correndo pedra em pedra nas praias mais acessíveis, trazendo muitas grades. Aos poucos, lá começaram a vir uns burros (como chamavamos aos bodiões que hoje escasseiam e na altura eram abundantes). Ao fim de 2 ou 3 anos, lá começaram a vir umas pescas de meia-dúzia de safias, com um sargo ou outro pelo meio. Até que em 2014 veio o cancro. Operado de urgência, retiraram-lhe o estômago, e não lhe deram mais de poucos meses de vida. Com quimioterapia de 15 em 15 dias, não deixou de ir à pesca. Fraco, nas pedras da Costa Vicentina, ainda perseguia o seu sonho de apanhar um robalo. Dedicou-se um pouco ao corrico para o conseguir.
Em Setembro de 2006, ferrou finalmente um peixe com a borracha, mas a linha enliou-se toda na pedra ao tentar retirá-lo. Eu, com algum risco, fui até à ponta da pedra desenliar tudo, num trabalho de paciência. Quando cheguei ao fim, vi uma bela baila pendurada no ar, em suspenso na rocha, perto da linha de água. Puxei, e assim o meu pai conseguiu o seu sonho. Não era um robalo, nem com o tamanho de sonho, mas valeu mais que isso. Morreu um mês depois.
Praia da Carriagem, Aljezur, Abril de 2007. Esta foto não foi desse dia, mas foi aqui que tudo se passou.
(https://i.imgur.com/uqw5Uoh.jpg)
Segui as pisadas do meu pai, que me pegou o bichinho da pesca. Em Abril de 2017 pela altura da Páscoa, fui fazer um rock fishing até à Praia da Carriagem com o meu tio, que apanhou também o bichinho da pesca com o meu pai, pouco experiente também na altura. O mar estava cheio e começámos a lançar da praia. Uma chumbada de 40 g, linha 0,28 mm e sardinha como isco, anzol nº 4 ( :-[ hoje não uso menos que nº2)... à espera de enganar um sarguito.
No meio do nada, vejo o meu tio ao lado a segurar a cana com dificuldade. Tinha um grande peixe. Foi aguentando, aguentando, trouxe o peixe até perto da linha de água, eu entrei para agarrar o peixe, mas quando me sentiu, deu um esticão mais forte e partiu a linha. Enorme desilusão, devia ter deixado o peixe entrar mais em terra... falta de experiência.
Na minha desilusão fiz mais um lançamento. De repente... pimba! Grande pancada na cana, fui atrás dela. Dei linha, e deixei-o ir... Quando o senti acalmar, comecei aos poucos a tentar fazê-lo aproximar de terra. Foram cerca de 45 minutos de luta intensa, muitos recuos e avanços, finalmente um onda atirou com o peixe para fora de água na outra ponta baía.
Eu tinha apenas 17 anos, 7 meses depois do falecimento do meu pai, mas das primeiras pescarias depois de ele ter falecido. Um pescador bastante inexperiente, mas conseguiu tirar um robalo de 4,3 kg com uma linha 0,28mm. Com muita sorte à mistura, é verdade. Mas naquele momento, foi o meu pai que me veio à memória. Ele estava ali comigo naquele momento, sem a ajuda dele não tinha tirado o peixe. Este peixe é dele.
(https://i.imgur.com/PvInl6F.jpg)
11 anos depois (hoje tenho 28 anos), nunca mais apanhei um robalo daquele calibre. Apesar de ter evoluído imenso como pescador, tal não voltou a suceder. Já tirei alguns robalos entre 1 a 2kg ao lançamento, até um com 3kg ao spinning mais recentemente. A minha pesca foca-se muito nas ilhadas aos sargos, mas ainda tenho esse desejo de bater este record. Pode ser que o meu pai me ajude!
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É sempre bom recordar as pessoas que nos são amadas
apesar de terem partido estão sempre entre nos
Força
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Um grande post.
Venho de uma família de pescador desportivos... O meu pai, tio e o meu avô já pescavam muito antes de mim.
Dos 3 apenas o meu avô não está vivo e lembro-me dele em todas as pescas que faço... Infelizmente nunca pesquei com ele apesar de o ter tido comigo durante 13/14 anos da minha vida.
Mas recordo todas as histórias que o meu pai me tem contado das pescas deles. Uma das máximas que sigo vem dessas histórias... Do meu pai me contar que muitas pescas ainda nem ele tinha montado o material já o meu avô tinha um grande exemplar em seco e dizia ao meu pai que iam embora pois não apanhavam um maior que aquele :).
Hoje faço o mesmo... Quando me toca um bom robalo, arrumo as coisas e venho-me embora sempre com essas histórias no pensamento a caminho do carro.
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Linda praia , e lindo relato. Parabéns.
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É sempre bom lembrar-mos quem nos criou e amou enquanto pôde. Aonde ele estiver está a ver-te .Força rapaz. Vai dando noticias. Um abraço :fixe:
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Lindo !! Lindo relato Jmiguel, é com grande gosto que li o teu post que é carregado de emoção até ao fim. Tens muito jeito para transmitir emoções a quem está do outro lado, lanço-te o desafio de continuares a brindar-nos com relatos teus, por poucas pescas que faças.
O teu pai, esteja onde estiver, concerteza que tem orgulho em ti.
Nem sei que dizer mais....adorei !!! =D> =D>
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Bonita história!
Um abraço
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Uma história bonita e que emociona. Por ti e pelo teu pai nunca desistas do sonho.
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Obrigado a todos! A pesca não são só capturas, mas também tem este lado mais sentimental, onde recordamos os muitos e bons momentos que já passámos, em companhia de familiares e amigos.
Lindo !! Lindo relato Jmiguel, é com grande gosto que li o teu post que é carregado de emoção até ao fim. Tens muito jeito para transmitir emoções a quem está do outro lado, lanço-te o desafio de continuares a brindar-nos com relatos teus, por poucas pescas que faças.
O teu pai, esteja onde estiver, concerteza que tem orgulho em ti.
Nem sei que dizer mais....adorei !!! =D> =D>
Nelson, obrigado antes de mais pela tua mensagem. Em várias pescarias que tenho feito ao longo dos anos quase sempre em companhia do meu tio, hoje em dia infelizmente menos vezes, muitas vezes senti a nostalgia ao pensar como o meu pai adorava aquelas praias da Costa Vicentina, aquelas paisagens, e como adoraria estar naqueles pesqueiros maravilhosos connosco, grande parte dos quais ainda não frequentávamos enquanto ele era vivo, a carregar de muitos e belos sargos. Mas por outro lado reconforta-me sentir que ele está ali connosco em cada uma dessas pescarias.
Sempre que for tendo um tempinho, vou escrevendo. Hoje mais memórias de pescarias antigas do actuais, mas gosto sempre de partilhar.
Um abraço
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Bonito relato companheiro, muitos parabéns.
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Sou homem feito, mas não deixei de soltar uma lágrima a ler esta tua história, este teu relato, cheio de emoção e sentimento, abraço e obrigado pela partilha :aplau: :aplau: :aplau:
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Bonito relato obrigado pela partilha
A vida tem tanto de belo como de cruel mas há que continuar a andar em frente enquanto se pode levando com conosco essas memórias
Continua a pesca com essa paixão
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É sempre triste quando alguém parte, principalmente quando nos é querido, e ainda por cima cedo demais.
Continua por ti e por ele.
Muitas das vezes só damos valor quando já não os temos. Aproveitem todos os momentos.
Obrigado pela partilha.
P.s. As datas devem estar 10 anos adiantados.
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Um excelente relato, como tu intitulaste sentimental. Que guardes sempre na memória as boas recordações e que leves sempre contigo para o mar e que o mantenhas vivo na tua memória e ele estará sempre a seguir-te, de certeza cheio de orgulho em cada pescaria que faças.
A nossa costa é de sonho, mas a vicentina enche as medidas de qualquer pessoa.
Obrigado por partilhares algo tão pessoal com tanta emoção.
Abr
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Partilha sentida companheiro.
Obrigado por despertares em mim sentimentos que às vezes parecem ficar esquecidos nas rotinas do meu dia a dia.
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Este tópico foi sem dúvida o que eu mais gostei de ler até hoje. Eu também partilho de sentimentos similares em relação ao meu pai que me iniciou na pesca e que também já não esta entre nós.
Obrigado pela partilha.
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Bela partilha companheiro.
Por vezes é bom recordarmos o lado humano e prazeroso da pesca pois nem sempre o conseguimos fazer.
E o lado simples é sempre mais fiel e agradável e onde podemos aproveitar melhor o sentido da pesca em si.
Muito obrigado pela partilha desses momentos.
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Boas
Fica difícil dizer qualquer coisa... os meus sentimentos por ver partir o pai tão cedo...
Parabéns pelo robalo, sem dúvida que vais lembrar para sempre esse peixe!
Obrigado pela partilha :fixe:
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Parabéns pelo teu relato. Um pouco triste, mas a vida continua. Muita emoção que conseguiste transmitir em cada linha. Os meus cumprimentos...
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Obrigado pela tua partilha sentida companheiro.
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Obrigado pela partilha, e assim mesmo. Na vida é do melhor que temos.
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É uma história cheia de sentimento. Obrigado por a partilhares connosco!
Parabéns pelo robalo!