Pesqueiro

Pesca em Águas Oceânicas => Preservação => Tópico iniciado por: LMagina em 12:20 Sexta, 27 de Dezembro de 2013

Título: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: LMagina em 12:20 Sexta, 27 de Dezembro de 2013
Nesta 2ª parte começo pelas doenças intrínsecas.
Estas, podem ser desde a pigmentação anormal (peixes com manchas ou com ausência de côr), deformação do esqueleto (alterações a nível da espinha, evidenciando desvios laterais ou verticais), tumores ou desenvolvimento deficiente. Podem, ainda, ocorrer problemas nutricionais, por exemplo, pela assimilação deficiente do alimento ou por desequilíbrio nutricional.


(http://corymorgan.com/wp-content/uploads/2012/11/fishy.jpg)
Nesta imagem é possível observar um tumor (bem grande).


As condições ambientais também influenciam a saúde dos peixes. Os parâmetros físico-químicos da água, tais como a temperatura, sólidos em suspensão, oxigénio dissolvido, alcalinidade, dureza, salinidade, pH e luminosidade.


(http://microgen.ouhsc.edu/e_ictal/e_ictal_fig3_large.png)
Nesta imagem, é possível observar um "inchaço" na zona ventral do peixe, chamada ascite, resultado de uma descida brusca da salinidade.


Também a poluição é responsável por doenças em peixes. Concentrações elevadas de alguns poluentes (naturais ou por acção humana) tais como compostos azotados (no caso, por exemplo, de lagos com pouca renovação de água e elevada carga de peixe), "blooms" de planctontes tóxicos (por exemplo cianobactérias), metais pesados (por exemplo, chumbo), pesticidas e herbicidas (DDTs e PCBs) e, até, altas concentrações de hormonas. A grande parte dos problemas causados pela poluição não é observável a olho nú, havendo claro algumas excepções em casos de contaminação aguda ou crónica.

(http://bloximages.chicago2.vip.townnews.com/billingsgazette.com/content/tncms/assets/v3/editorial/b/a3/ba352e59-dfd8-505c-830c-8136ef18df0c/4fe1641d9c4bd.preview-620.jpg)
Nesta imagem é possível observar empolamento da pele do opérculo devido à grande concentração de compostos azotados



 
O efeito das hormonas foi descoberto há relativamente pouco tempo. Descobriu-se que a quantidade de mulheres a usar a pílula contraceptiva é tão grande, que a hormona (17-alfa-etinilestradiol ou 17-beta-estradiol) contida na urina feminina, das mulheres que a usam, é transportada para os estuários, afectando a saúde dos peixes existentes, nomeadamente "efiminando" os machos e tornando as fêmeas estéreis (inclusivamente causando-lhes a morte) por excesso de hormona. Óbvio que isto não se passa em todos os estuários, apenas nos que existe uma grande carga de efluentes e pouco caudal.


Na próxima parte, falarei de parasitas e parasitoses.

Cump's
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: Josy em 03:21 Domingo, 29 de Dezembro de 2013
Boas,
Excelente.
Curioso essa da salinidade relacionada com as doenças, há dias estive a ler um artigo, em que estudavam as catpuras e a sua relação com a salinidade numa mesma lagoa que era grande e nela haviam zonas com diferentes coeficientes de salinidade.
Cmprimentos.
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: LMagina em 01:01 Segunda, 30 de Dezembro de 2013
Obrigado, Josy.

Já agora, explico o porquê da salinidade estar ligada a doenças.

Os peixes de água doce diz-se serem hipertónicos - ou seja, a concentração de sais nos seus fluidos corporais é superior à da água e têm tendência a receber água, que entra por osmose. Se não houvesse alguma estratégia de regulação, o animal tenderia a inchar. Assim, estes animais para se defenderem, não bebem água e eliminam grandes quantidades de urina muito diluída (tendo, por isso, glomérulos de grandes dimensões nos rins).
Já os peixes de água salgada têm de processar a sua osmorregulação no sentido inverso. Como os seus fluidos corporais são hipotónicos em relação à água do mar (isto é, com uma menor concentração de sais), a água tem tendência a sair naturalmente dos seus corpos, por osmose, o que provocaria a sua morte por desidratação, caso não houvesse alguma forma de regular este processo. Assim, o animal tem , nos rins, glomérulos de pequenas dimensões, de forma a produzir urina isotónica (com o mesmo grau de concentração de sais) em relação à água do mar. Para compensar esta perda de água através da urina, estes animais bebem grandes quantidades de água.a água do mar apresenta elevada concentração de sais, o que poderia acarretar uma elevação na concentração plasmática do animal. Para contornar o problema, os peixes de água salgada possuem células especializadas nas suas brânquias, capazes de eliminar o excesso de sais por transporte activo. Estas células chamam-se células de cloro.

Ora, quando há uma súbita alteração da salinidade (ou prolongada) há espécies que não conseguem alterar a sua osmorregulação para a salinidade em questão, já que nem todos os peixes são, por exemplo, como o Robalo que aguenta uma grande diferença de salinidades, sendo por isso consideradao de eurialino.Os peixes que não aguentam alterações grandes de salinidade chamam-se estenoalinos. Ora estes últimos, devido à sua incapacidade de alterar a osmorregulação, vão inchar por acumulação de líquido intersticial e vão, a curto prazo, ter problemas renais que poderão levar à morte.

Isto tem a ver com as capturas no sentido em que, se numa loga existem zonas com diferentes salinidades e se estivermos a falar de uma espécie estenoalina, de certeza que vamos capturar muito mais peixe numa zona onde a água contenha uma salinidade confortável para o peixe.
Se estivemos a falar de animais eurialinos, essa relação de salinidade/quantidade de capturas pode já não se verificar.

Atenção que nada disto se verifica para espécies que façam migrações de água-doce para salgada (como o salmão ou a enguia) ou vice-versa, porque aí entram em funcionamento hormonas (por exemplo, a prolactina) que ajuda o organismo a adaptar-se ao novo meio.

Cump's
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: Josy em 21:44 Segunda, 30 de Dezembro de 2013
Boas,

Sim faz todo o sentido.

Quer se olhe para o universo ou para um microcosmo é a sempre na natureza que se encontram as realizações mais fascinantes e inventivas.

São muitos milhões de anos a virar frangos. :hahaha:

Cumprimentos.
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: Nelson Peres em 13:13 Sábado, 21 de Abril de 2018
Este tópico é muito interessante e concerteza que muito há por desenvolver mas trago aqui algo que se está a falar um pouco em redes sociais e ainda não vi uma explicação de alguém com conhecimento de causa para identificar o «problema».

Vou postar 3 das fotos que já vi por aí para debruçarmo-nos sobre o tema, para alem do Luís Magina, especialista na área julgo haver mais um companheiro (que eu tenha conhecimento) do forum formado na área que nos poderá ilucidar sobre o problema dos peixes.

[attachment=1]
[attachment=2]
[attachment=3]

Se repararem a linha longitudinal preta dos sargos a determinado momento não é continua, faz um desvio...e têm todos um inchaço na mesma zona.

Que se passa com estes peixes ?!
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: Nelson Peres em 13:37 Segunda, 23 de Abril de 2018
Recupero o tópico para ver se alguem tê alguma explicação para estes peixes.
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: duas em 14:00 Segunda, 23 de Abril de 2018
Essas manchas não sei a sua origem mas quase todos os sargos têm. Parece ferrugem.
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: ze carlos em 14:09 Segunda, 23 de Abril de 2018
Boas

tentei pesquisar acerca e o único documento que encontrei foi este

https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=8&ved=2ahUKEwit6ef6t9DaAhUMOhQKHRf5CEIQFjAHegQIABBP&url=https%3A%2F%2Fsigarra.up.pt%2Fflup%2Fpt%2Fpub_geral.show_file%3Fpi_gdoc_id%3D49650&usg=AOvVaw18Og4otM7NmSp121jyDnVX

penso que este seja assunto próprio de quem tenha habilitações para tal e refiro-me a algum dos biólogos membros do fórum

se fosse algum peixe tropical de agua doce ainda me atrevia a opinar assim como tenho total falta de conhecimento acerca,também tenho curiosidade de saber acerca do que se trata 
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: Nelson Peres em 21:17 Segunda, 23 de Abril de 2018
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Essas manchas não sei a sua origem mas quase todos os sargos têm. Parece ferrugem.

Não têm haver com as manchas, repara na zona atras do cu dos sargos. Tem um inchaço esquisito (há uma foto com 2 sargos que só um deles é que têm) na zona. São fotos de peixes diferente e com o mesmo «mal».
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: Ernesto Lima em 21:41 Segunda, 23 de Abril de 2018
Muito bom Luís.

Para quem nada percebe do assunto, é importante conhecer algumas razões daquilo com que por vezes deparamos.

Abraço

Ernesto
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: matgaiato em 21:41 Quarta, 17 de Janeiro de 2024
Tema muito interessante. Obrigado :)
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: duas em 16:26 Sexta, 29 de Março de 2024
Os cargos vêm muitas vezes com o bujom inchado com cascas de mexilhão.
Título: Re: Patologia de peixes - parte 2
Enviado por: José L. Guerreiro em 23:07 Sábado, 30 de Março de 2024
[attachment=1]Na zona de Sintra nesta altura de inverno/início primavera os “sargalhões” de bom lote estão redondos e alguns com pintas pequenas amarelas nas escamas, chamam-lhe os sargos de arribação, expressão dada por pescadores batidos na zona.