Estações do Ano e Quantidade de Peixe

[LMagina]

Boas!

Muito se fala sobre o pescar no Verão ou no Inverno, quando existe mais peixe, que espécies, tamanhos, etc.
Fala-se da temperatura da água, das migrações, das desovas e por aí fora.
No entanto, são, principalmente, os factores físicos das dinâmicas dos oceanos que respondem a esta questão.


Primavera/Verão:

É, efectivamente, nesta altura do ano que existe mais peixe na nossa costa. Isto deve-se a um fenómeno conhecido como 'Afloramento costeiro' ou 'Upwelling'. Este fenómeno é desencadeado pelos ventos, que nesta altura do ano, sopram predominantemente de norte, devido à migração anual do anticiclone dos Açores em latitude (para norte).
Como o vento causa atrito ao entrar em contacto com a superfície da mar, vai provocar movimento nas camadas superiores do oceano. O arrastamento da camada superior da água provocado pelo vento vai-se transmitindo, também por atrito, às camadas subjacentes, se bem que cada vez mais atenuado, até se atingir um nível onde o efeito do vento já não é sentido (entre os 200 e os 400 metros de profundidade, dependendo da velocidade do vento). Poder-se-ia pensar que o resultado seria o movimento da água no sentido do vento, mas devido à acção deflectora (para a direita no Hemisfério Norte) da força de Coriolis (devida ao movimento de rotação da Terra), o movimento provocado pelo vento é desviado. A soma do vento com a acção da força deflectora, resulta num transporte de massa perpendicular à direcção do vento (para a direita deste no caso do Hemisfério Norte).  Portanto, se considerarmos a acção de um vento dirigido para o Equador paralelamente a uma costa que esteja à sua esquerda no caso do Hemisfério Norte, tal como acontece em Portugal,  (à direita no caso do Hemisfério Sul), o transporte de massa provocado pela acção do vento, vai afastar para o largo a camada superficial de água, provocando, por continuidade, a subida de águas mais profundas (Imagem 1). A esta corrente chama-se "Corrente Costeira de Portugal".

Imagem 1

Como estas águas são, geralmente, mais frias e mais ricas em nutrientes (substâncias dissolvidas na água, tais como fosfatos, nitratos e silicatos, as quais constituem o alimento das algas microscópicas - o fitoplâncton, que é a base da cadeia alimentar) do que as águas à superfície, o efeito final será um abaixamento da temperatura superficial e um aumento da sua produtividade biológica. Como tal, e com a abundância da base da cadeia alimentar, aparece a restante cadeia alimentar (zooplâncton, peixes, mamíferos marinhos, etc).
Existem várias regiões no Mundo famosas pela sua elevada produtividade devido ao “upwelling” tais como a costa do Perú e do Chile, da Antárctida, da Namíbia e oeste dos EUA. Cerca de 50% do volume total de pescarias comerciais provém de zonas de “upwelling”, apesar de estas corresponderem a apenas 1% da área total do oceano. É possível observar o fenómeno de upwelling na costa portuguesa (e em todo o mundo) através de imagens de detecção remota por satélite, no domínio do infravermelho (Imagem 2).

Imagem 2

Outono/Inverno:

Durante os meses de Outono e Inverno, a migração do anticiclone dos Açores para sul conduz a um regime de ventos na costa ocidental Ibérica com predominância de oeste e sudoeste. Como tal, durante o Inverno, o afloramento costeiro (Upwelling) desaparece, excepto por breves períodos de ventos favoráveis, sendo substituído por transporte de águas superficiais em direcção à costa. Este transporte e, sobretudo, o ajustamento geostrófico (efeito da força de Coriolis sobre a força da corrente) da circulação geral para leste da camada superficial do Atlântico Nordeste sobre a vertente continental, formam, durante os meses de Outono e Inverno, uma corrente superficial em direcção ao polo (“Contra Corrente Costeira de Portugal”). Esta corrente, chamada “deriva do Sul”, transporta água de origem subtropical relativamente mais quente e salgada que a sua vizinhança, logo mais pobre em nutrientes, sendo esta a razão para haver menos matéria biológica e, como tal, menos peixe. Neste caso, é possível observar o fenómeno de 'Downwelling', em tudo contrário ao de 'Upwelling'.


Bibliografia:
Ambar, I., 1994: “Alguns Aspectos da Física do Oceano”. Revista Colóquio/Ciências No. 14: 21-34. Fundação Calouste Gulbenkian.
NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration


Obrigado pela leitura.
Cumprimentos,
LMagina

[luisfgpinto]

BOM ARTIGO, OBRIGADA PEL PARTILHJA.

[ffgsoares]

 Boa partilha companheiro.

 Por acaso já tinha abordado esse fenómeno em tempos no sitio tenho uma imagem que vou colocar para reforçar o tópico.

 Boas pescarias [Atalho: Você não está autorizado a visualizar anexos ]

[Rider]

Muito bom.
Obrigado pela partilha.

Está explicado alguma coisa.

[FilipePC]

É muito bom para a malta aprender.

[Nelson Peres]

Obrigado pela partilha

[José Garcez]

Boas,

Boa partilha Luis 

Abraço

[kalvas]

Bom artigo.
Estamos sempre a aprender.
Um abraço.

[Beto_Manja]

Boas,

Já conhecia o "efeito", mas desconhecia em parte as "causas".
Bom artigo, muito bem explicado.

Obrigado pela partilha.

[Ricardo Teixeira]

excelente artigo, com muito a aprender
obrigado pela partilha

[Josy]

Boas,

Gosto desse tema, temos tido em atenção isso ao longo dos anos e analisado as imagens de satélite com uns amigos em especial um que pesca por toda a parte do mundo.

Esse movimento do anticlone dos Açores em latitude para norte tem que se diga. De um ano para o outro já assistismos a várias variações na pesca que atribuimos precisamente à localização do anticiclone dos Açores, ao desfazamento onde, em principio, deveria estar e onde na realidade estava.

Como muitos dos documentários se repetem, dão periódicamente no Odisseia ou no NG, não posso precisar, alguns documentários em que explicam essas interacções climáticas das massas maritimas e atmosférias e sua relação com os movimentos de rotação e translação da terra, relacionando depois com movimentos migratórios, abundância de alimentos, etc.
Infelizmente costumam passá-los em horas muito tardias.

Cumprimentos.

[LMagina]

Esse movimento do anticlone dos Açores em latitude para norte tem que se diga. De um ano para o outro já assistismos a várias variações na pesca que atribuimos precisamente à localização do anticiclone dos Açores, ao desfazamento onde, em principio, deveria estar e onde na realidade estava.

As variações na pesca poderão ser mais influenciadas pelo OAN (Oscilação do Atlântico Norte) do que apenas pelo movimento do anticiclone dos Açores. Há vários artigos científicos publicados nesse sentido. Obviamente que este movimento está interligado com o OAN, mas o sistema completo parece ter mais influência na pesca (como tem no clima), já que estamos a falar num gradiente de pressão. Aí está um assunto interessantíssimo para debater!

[Luis novo]

bom artigo,obrigado pela partilha...

[Beto_Manja]

Boas,

Por falar em anticiclone dos Açores, a malta daí que vá lá por umas pilhas novas  que o gajo está sem força e eu quero ir à pesca.... 

[Josy]

Boas,

Esse movimento do anticlone dos Açores em latitude para norte tem que se diga. De um ano para o outro já assistimos a várias variações na pesca que atribuímos precisamente à localização do anticiclone dos Açores, ao desfasamento onde, em princípio, deveria estar e onde na realidade estava.

As variações na pesca poderão ser mais influenciadas pelo OAN (Oscilação do Atlântico Norte) do que apenas pelo movimento do anticiclone dos Açores. Há vários artigos científicos publicados nesse sentido. Obviamente que este movimento está interligado com o OAN, mas o sistema completo parece ter mais influência na pesca (como tem no clima), já que estamos a falar num gradiente de pressão. Aí está um assunto interessantíssimo para debater!

Claro que sim, foi uma simplificação, o próprio tem as suas origens e causas de comportamento integradas no fenómeno global, mas lá que é um sinal isso é, o resultado confere tanto nas condições do nosso clima como na pesca.

Quando enfraquecido e deslocado para Sudoeste não consegue bloquear ou amenizar os temporais recentes, o que também tinha acontecido em Fevereiro de 2010 por exemplo, ou seja, as superfícies frontais vindas de Noroeste carregadas de chuva e com ventos fortes encontram o caminho livre para passarem e fustigarem sem dó a nossa costa.
Esta deslocação que altera o percurso normal das massas de ar está definida como tendência por alguns meteorologistas.

Já estou como o Beto Manja à espera que ele se ponha fino, mas na realidade pelos que os cientistas andam a vaticinar acerca de fenómenos meteorológicos extremos cada vez mais frequentes não tenho grandes esperanças.

Cumprimentos.

[Braga]

Boas

Obrigado pela partilha e pelo óptimo tópico.

Vou ter de ler outra vez.

Fiquem bem.

Braga

[LMagina]

Já estou como o Beto Manja à espera que ele se ponha fino, mas na realidade pelos que os cientistas andam a vaticinar acerca de fenómenos meteorológicos extremos cada vez mais frequentes não tenho grandes esperanças.

Ja somos 2, então... :\

[fukuy]

Obrigado pela partilha   

[Hugo Almeida]

Bom tópico obrigado pela partilha