Onde corricar de noite num mar chão

[Braga]

Boas.

Após a devida autorização do autor, António Simões, aqui fica mais este escrito.

Onde corricar de noite num mar chão

Caros entusiastas do corrico, gostaria de primeiro informar que não sou um caçador predador de robalos.

Já o fui, em tempos idos, cometi erros e excessos e nunca fui nem o pretendo ser um bom pescador, porque não sei o que isso é... Se apanhar 30 kgs de robalos numa noite, em que não se vai trabalhar no dia seguinte com dores de estomago ou gripe...é sintomático de grande mestria e grande pescador, eu não me enquadro nesse estereotipo de pescador, porque não vendo peixe...Trabalho, como trabalhamos todos árduamente todos os dias para levar o nosso pão para casa ,e pesco uma duzia de horas por mês... Pelo que não faço vida da pesca nem me pretendo autopromover a nada porque sou apenas e só um simples pescador de cana e linha, apaixonado por tão nobre passatempo.

Hoje dou-vos vários exemplos onde podem e devem corricar nos pontos de agua que assinalo nas fotos:

Na primeira sequência, (primeira foto a contar de baixo) temos um mar chão em varios pontos da costa.

Se repararem, no ponto de viragem da maré de noite há sempre um rebojo em cima de um banco de areia, acessivel a um lançamento.

É aí que devem procurar os robalos..Em agua paradas é inutil sofrerem o desgaste fisico, pois quando a maré subir esses mesmos pontos deixarão de trabalhar e o peixe deixa de comer...Poderão junto ao maciço rochoso procurar fazer mais alguns lançamentos pois é para aí que o peixe se desloca em suspensão com muita agua.

Só depois da viragem da maré é que o seu relogio biologico os manda dirigir-se para os rebojos novamente, procurando alimento , camuflando-se,e tendo apetite para o despertar novamente.

Pontos de agua destes devem ser procurados na tranquilidade de uma vaza de 0,80 , 070 que seja ás duas , tres, quatro da manha.O robalo quer sossego, tranqulidade, para poder vir a terra com este tipo de mar....

Na segunda sequencia(segunda foto a contar de baixo) temos um ponto nevralgico na seca onde vão comer os robalos. Lançar de frente para agua mortas, paradas , conforme podem ver assinalado é inutil. Devem sim fazer lançamentos laterais para os rebojos e quase na contra seca.

Paragens do boião e deixar a trabalhar a borracha na força da vaguinha é aí onde els se concentram na mudança da maré ou vazante naquele ponto de agua....

Na terceira sequencia(primeira foto) tenos um exemplo tipico de robalos predadores á meia maré ou em suspensão depois de sairem dos areios...é nesse cabeços ilhados de areia por todos os lados que os robalos se entrarem no pesqueiro vão permanecer com o mar chão enquanto não trabalha a vazar.

Nestes cabeços alberguam-se e sendo areias novas a cobrir o pesqueiro todo á volta, comedoria, cabozes, pequenos polvos, camarão, etc..

Por hoje ficamos por aqui, já são perto das 18.30 deste Domingo cinzento e quero ir pescar, borrachar na crista das vagas..

Abraço

Viver a pesca!!

Autor - António Simões

Fiquem bem

Braga

[Braga]

Boas

Continuação do escrito e agora uma resposta dada

Pois...mas não é...Para mim é sempre uma enorme satisfação, pessoas que me ligam, que querem me conhecer e corricar comigo.

Pescar noites inteiras ao vento, á solidão, ao frio, á chuva , resistir ao cansaço fisico , psicologico, ao sono, tendinites, caminhar com bota-calça até ao peito cheio de roupa, kms pelos areais, eleva esta arte dificil para o patamar da excelencia, que é o corrico nocturno.

A conjugação perfeita de vários elementos fisicos, ocorre meia duzia de vezes por ano, para que esta arte tenha a sua magnitude em pleno. E isso só se consegue depois de muitos anos para se fazer uma leitura perfeita do mar.Os seus sinais(do mar) só são possiveis de se fazerem para quem viva como eu e alguns de nós á beira-mar. Ter um Amigo que possa dar essas indicações para quem mora longe é extremamente importante.

Quando comecei a corricar, perto dos 25 anos de idade(tenho 46 actualmente), de raiva chorei e parti a ponteira de uma cana na pedra, porque não cobrava um robalo de noite , porque não entendia, que no meio de 20 corricadores, os robalos iam saindo como atuns em cardume e eu não engatava um...Aprendi a custo sozinho, ninguém me ajudou nessa fase inicial.

Corria de madrugada na vazante para apanhar as borrachas dos outros que se perdiam nos mexilhões, tentei perceber o mecanismo do seu trabalhar na agua.

As cores, queimei as pestanas a ler na altura livros e revistas francesas sobre a evolução , sobre o comportamento e estudo dos robalos, já muito adiantados em relação a nós.

As linhas , a calibragem, o movimento do trabalhar do carreto, a sua velocidade,os pontos de agua dos meus pesqueiros mais favoraveis,a temperatura da agua, a altura da agua na vazante e enchente, os sinais por terra, o que trazem os barcos artesanais quando chegam, a comedoria...

Hoje , e geralmente quando escrevo, estou sempre a pensar nos jovens, é para eles que o meu pensamento vai.

Esta arte que pratico defende uma herança cultural que vem dos nossos antepassados.

De uma forma artesanal, com um simples tubo de borracha manuseado e alterado manualmente, e com um anzol muito pequeno e fragil, e uma linha o.30 mono que sob pressão com um robalo num simples mexilhao ou lapa se rompe facilmente, consigo aproximar-me do meu ideal de pesca.

Transmitir esta herança aos mais jovens para que continuem a praticar esta arte, é não abdicar de perder a memória e a nossa herança cultural.

Um povo sem memória não tem futuro em lado algum.

Abraço

António Simões

Fiquem bem.

Braga

[Nelson Peres]

"Transmitir esta herança aos mais jovens para que continuem a praticar esta arte, é não abdicar de perder a memória e a nossa herança cultural.

Um povo sem memória não tem futuro em lado algum."
Fantástico !! Este autor é um verdadeiro senhor. Não se inibe em partilhar os conhecimentos que adquiriu com base na sua própria experiência. Uma forma de estar motivante

[Braga]

Boas

Ó Nelson agradeço em nome do autor e realmente um um grande legado o dele e ainda existe mais.

Fica bem.

Braga

[Nelson Peres]

Boas

Ó Nelson agradeço em nome do autor e realmente um um grande legado o dele e ainda existe mais.

Fica bem.

Braga

Ele têm algum livro escrito ?!

[kalvas]

Mais um belo artigo.
Embora não seja a minha pesca.
Grande legado mesmo.

[robalinho]

Boas

Ó Nelson agradeço em nome do autor e realmente um um grande legado o dele e ainda existe mais.

Fica bem.

Braga

Ele têm algum livro escrito ?!

BOAS

realmente tambem faço a mesma pergunta se existe algum livro deste senhor ou se tem algum blog ou assim pois cada texto citado do mesmo faz me ler e reler esta arte que tanto gosto me dá pratica la aem partilha com o esplendido azul.

abraço e obrigado pela partilha

[Braga]

Boas

As várias mensagens foram retirados do Sítio do Pescador, após a devida autorização do autor e outros escritos vão aparecer.

Fiquem bem.

Braga