collapse

Autor Tópico: Fenómenos meteorológicos extremos alteram praias  (Lida 4600 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão a ver este tópico.

Offline Beto_Manja

  • Marlin
  • *****
  • Mensagens: 3283
  • Agradecido: 297 vezes
  • Já tenho saudades de ir à pesca....
    • Benedita
  • No Pesqueiro desde:
  • 09:37 Quinta, 26 de Dezembro de 2013
Re: Fenómenos meteorológicos extremos alteram praias
« Responder #15 em: 05:07 Segunda, 03 de Março de 2014 »
Boas,

Então mas é verdade que a placa continental já esteve mais área submersa do que a que tem agora, com os fósseis aquáticos encontrados bem acima do nível de água actual ou não?
É ou não verdade que o nível da água está a aumentar?
O que está a provocar isso então?
Cumprimentos,
Roberto

...e se tiver que me calhar uma grade...
...que seja de minis Sagres!!!
 

Offline LMagina

  • Gestor do Pesqueiro
  • Marlin
  • *****
  • Mensagens: 1713
  • Agradecido: 133 vezes
    • Porto
  • No Pesqueiro desde:
  • 23:25 Segunda, 23 de Dezembro de 2013
Re: Fenómenos meteorológicos extremos alteram praias
« Responder #16 em: 22:38 Segunda, 03 de Março de 2014 »
Não está autorizado a ver ligações. Registe-se ou Entre
Boas,

Então mas é verdade que a placa continental já esteve mais área submersa do que a que tem agora, com os fósseis aquáticos encontrados bem acima do nível de água actual ou não?
É ou não verdade que o nível da água está a aumentar?
O que está a provocar isso então?

Boas!

Vamos por partes...
É verdade que foram e são encontrados fósseis aquáticos bem acima do nível da água do mar. Ora, os fósseis não são de há 100 ou 200 anos atrás. Estamos a falar de fósseis com milhares de anos. Isto acontece porque a terra nem sempre teve o aspecto que conhecemos (Imagem 1).


Através desta imagem é possível observar a evolução do planeta. Portanto, as movimentações das placas tectónicas deslocaram e continuam a deslocar os continentes. Zonas que eram antigamente subaquáticas passaram a ser de terra firme. Mas isto não se deveu a subidas e descidas do nível da água do mar, mas sim aos movimentos das placas tectónicas.

Em relação à subida do nível do mar, são muitos e complexos os factores que podem influenciar este tipo de alteração.
O nível do mar subiu cerca de 130 metros desde o auge da última idade do gelo há 18000 anos. A maior parte desta subida ocorreu há mais de 6000 anos. Desde há 3000 anos até ao início do século XIX, o nível do mar manteve-se praticamente constante, subindo entre 0.1 e 0.2 mm/ano. Desde 1900 o nível do mar subiu à taxa de 1 a 2 mm/ano; desde 1992 dados de altimetria por satélite obtidos pelo TOPEX/Poseidon indicam uma subida de aproximadamente 3 mm/ano. O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) nota, no entanto, que "não foi detectada uma aceleração significativa na velocidade de subida do nível do mar durante o século XX."

Nivel eustático e nível local do mar
O nível local médio do mar (NLMM) é definido como sendo o valor médio da altura do mar em relação a um referencial terrestre, durante um período de tempo (um mês ou um ano, por exemplo) suficientemente longo para que as variações causadas pelas ondas e pelas marés possam ser suavizadas. Devem fazer-se ajustamentos a alterações detectadas no NLMM para descontar os efeitos de possíveis movimentos verticais da terra, que podem ser da mesma ordem (mm/ano) que as mudanças no nível do mar. Alguns movimentos de terra ocorrem devido ao movimento isostático do manto e ao derretimento de mantos de gelo no final da última era glaciar. O peso do manto de gelo deprime o terreno subjacente, e quando o gelo derrete a terra lentamente volta à sua posição anterior (ressalto isostático). O NLMM pode também ser afectado pela pressão atmosférica, correntes marítimas e mudanças locais na temperatura do oceano.
A mudança eustática (contrariamente à mudança local) resulta numa alteração global dos níveis do oceanos, tais como variação do volume de água dos oceanos do mundo ou do volume de bacias oceânicas.

Variações a longo prazo
Muitos factores afectam o volume ou a massa do oceano, conduzindo a mudanças de longo prazo no nível eustático do mar. As duas influências principais são a temperatura (porque o volume da água depende da temperatura e não devido ao degelo!), e a massa da água retida na terra e no mar sob a forma de água doce em rios, lagos, glaciares, calotes de gelo polar, e gelo marinho. À escala de tempo geológico as mudanças nas formas das bacias oceânicas e na distribuição de terra/mar afectam também o nível do mar.
Estimativas observacionais são de que a subida do nível do mar devido ao aumento da temperatura é de 1 mm/ano durante as décadas recentes. Estudos observacionais e de modelo da perda de massa dos glaciares e das calotes polares indicam uma contribuição média para o aumento do nível do mar de 0,2 mm/ano a 0,4 mm/ano durante o século XX - muito pouco, portanto.

Glaciares e calotes polares
Em cada ano, cerca de 8 mm de água da superfície inteira dos oceanos cai na Antárctica e na Gronelândia sob a forma de neve. Se o gelo não retornasse aos oceanos, o nível do mar diminuiria 8 mm a cada ano. Todavia, aproximadamente a mesma quantidade de água retorna aos oceanos em icebergues e em gelo que  derrete nas suas extremidades. Os cientistas não sabem qual é o maior - o gelo que entra ou sai. A diferença entre o gelo que entra e o gelo que sai é chamada de balanço de massa e é importante pois faz variar o nível do mar em termos globais.
Plataformas de gelo flutuam na superfície do mar e, se derretem, não alteram directamente o nível do oceano, do mesmo modo, o derretimento da calota de gelo polar norte, que é composta de blocos de gelo flutuantes, não contribui significativamente para a subida do nível dos oceanos. Por serem constituídas por água doce, no entanto, o seu derretimento causa um pequeno aumento nos níveis do mar, mas tão pequeno que é geralmente desprezado.

Cump's
 
« Última modificação: 22:41 Segunda, 03 de Março de 2014 por LMagina, Motivo: Correcção de erro ortográfico. »
Lembrem-se sempre: "Quem peixe procura, peixacha!"
 

Offline kalvas

  • Gestor do Pesqueiro
  • Marlin
  • *****
  • Mensagens: 15510
  • Agradecido: 1056 vezes
    • Sintra
  • No Pesqueiro desde:
  • 20:48 Segunda, 30 de Dezembro de 2013
Re: Fenómenos meteorológicos extremos alteram praias
« Responder #17 em: 00:44 Terça, 04 de Março de 2014 »
LMagina.
Já me tinha perguntado o mesmo.
Bom post.Como sempre.
 :fixe:

Um abraço.
Trabalhador por obrigação ; pescador por gosto.
 

Offline Nelson Peres

  • Marlin
  • *****
  • Mensagens: 21444
  • Agradecido: 1291 vezes
    • Parchal - Algarve
  • No Pesqueiro desde:
  • 09:55 Terça, 24 de Dezembro de 2013
Re: Fenómenos meteorológicos extremos alteram praias
« Responder #18 em: 15:08 Terça, 04 de Março de 2014 »
Mais uma intervenção pedagógica de grande qualidade do LMagina :aplau: :aplau: :fixe:
Nelson Peres
 

Offline Beto_Manja

  • Marlin
  • *****
  • Mensagens: 3283
  • Agradecido: 297 vezes
  • Já tenho saudades de ir à pesca....
    • Benedita
  • No Pesqueiro desde:
  • 09:37 Quinta, 26 de Dezembro de 2013
Re: Fenómenos meteorológicos extremos alteram praias
« Responder #19 em: 18:04 Terça, 04 de Março de 2014 »
Boas,

Obrigado pela explicação Lmagina. :fixe:

Resumindo e baralhando, com muita ou pouca influência do degelo, o nível da água tem vindo a aumentar desde a ultima época glacial bem como a alteração das linhas de costa devido à deriva das placas continentais, tal como eu havia dito no meu comentário.
Isso para mim, são as principais causas do avanço do mar sobre a terra e o que vai causando os estragos que temos observado, não propriamente os fenômenos meteorológicos extremos se bem que é quando estamos na presença dessas tempestades maiores que a destruição se faz notar.
Cumprimentos,
Roberto

...e se tiver que me calhar uma grade...
...que seja de minis Sagres!!!
 

Offline Zé Maria

  • Nerd!
  • Marlin
  • *****
  • Mensagens: 3804
  • Agradecido: 432 vezes
    • Vila do Conde
  • No Pesqueiro desde:
  • 16:32 Sábado, 21 de Dezembro de 2013
Re: Fenómenos meteorológicos extremos alteram praias
« Responder #20 em: 18:16 Terça, 04 de Março de 2014 »
Os Drifts continentais são muito lentos, na ordem de cm/ano, em que cada placa continental se desloca como um todo mas na "horizontal". Acho que a influência na linha costeira é negligenciável, teríamos de usar uma escala na ordem de milhões de anos para notar os seus efeitos.

Já as épocas glaciares distam milhares de anos.


 

Offline PedrasSalgadas

  • Marlin
  • *****
  • Mensagens: 2096
  • Agradecido: 9 vezes
  • Pesco, logo existo!
    • Porto/Fig. da Foz
  • No Pesqueiro desde:
  • 14:14 Quarta, 15 de Janeiro de 2014
Re: Fenómenos meteorológicos extremos alteram praias
« Responder #21 em: 18:23 Terça, 04 de Março de 2014 »
Boas, quanto a este assunto não pretendo criar aqui nenhum tipo de polémica, e portanto não vou estar a contestar ponto a ponto a (pouca) informação que foi sendo dispensada neste tópico, no que à erosão da orla costeira ocidental diz respeito.

Foram referidos estudos, eu apenas li alguns trechos de uma dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil  ;) na Universidade de Aveiro, em que o Júri à prova eram exclusivamente Engenheiros Civis  ;) ;) (não sei bem porquê mas nestas coisas a Engenharia Civil em Portugal nunca se mistura com as outras áreas do saber) a Geologia para estas coisas nunca é convocada  :o deve ser Persona non Grata.

Essa dissertação, “Impacto das Acções Antropogénicas do Comportamento Sedimentar do Rio Douro“ da Autoria de Eduardo da Costa Conceição, refere logo na sua introdução que os valores aqui apresentados pelo companheiro LMagina são defendidos por uns e contestados por outros, certo é que de facto há uma redução significativa de transporte de sedimentos pelo rio Douro, tendo o autor na dissertação que a redução se deve aos seguintes factores:
— Albufeiras 40%
— Dragagens 30%
— Diminuição do Caudal Líquido 20%
— Outros 10%

Mas a redução do volume sedimentar transportado pelos rios é apenas um dos factores da erosão da orla costeira, como refere J. M. Alveirinho Dias no seu estudo de geologia costeira em 1993 "Estudo de Avaliação da Situação Ambiental e Proposta de Medidas de Salvaguarda para a Faixa Costeira Portuguesa" no qual aponta alguns factores concorrentes para essa erosão:
— elevação do nível do mar;
— diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral;
— degradação antropogénica das estruturas naturais;
— obras pesadas de engenharia costeira, nomeadamente as que são implantadas para defender o litoral.

O que verifico é que estando a engenharia Portuguesa na posse de dados que comprovadamente lhe demonstram que há uma significativa redução dos sedimentos fluviais, tenha optado sempre pela pior das soluções em termos de protecção da orla costeira, e o resultado está à vista.

Neste planeamento, ou total ausência do mesmo, a engenharia Portuguesa esbardalhou-se ao comprido, e não vale a pena querer agora exigir responsabilidades, neste como noutros assuntos, a engenharia Portuguesa haverá de encontrar sempre forma de sacudir a água do capote.
Recordo aqui o caso da Ponte de Entre-os-Rios, um pouco mais e ainda se provava no tribunal de Penafiel que a mesma nem tinha caído ……… e ao que parece a culpa também foi da areia.

Obviamente que resta apenas dizer, os Holandeses foram inteligentes, mas quais Holandeses, os cientistas, os engenheiros, ou os políticos.

E não me venham falar de política, porque se há ramo de actividade que neste País sempre andou sempre de braço dado com a política, tanto na segunda como na terceira República, foi a engenharia civil.

E ainda gostava de saber porque é que na Praia da Tocha não há paredões e areia ainda lá está.

Concluo a minha participação neste tópico com uma foto das casas edificadas pelo meu trisavô José Francisco Silva para os seus filhos.

[Atalho: Você não está autorizado a visualizar anexos ]

Em 2015 completam-se 150 anos desde que esse José Francisco Silva chegou a um local ao sul da Figueira da Foz para assentar a sua campanha de arte xávega e desse modo fundar uma povoação que é hoje a Praia da Leirosa.

Muito provavelmente esse Mar que um dia a todos nos levou até lá, reclamará o que é dele e nos fará abandonar o local e a povoação.
Mas também por aí lhe estaremos agradecidos, a ser, que seja ele a tirar-nos de lá. O Mar, nesta história, é o menos culpado de todos.

Ab
Manel

O hábito faz o monge, o Sítio faz o pescador!
 

Offline Beto_Manja

  • Marlin
  • *****
  • Mensagens: 3283
  • Agradecido: 297 vezes
  • Já tenho saudades de ir à pesca....
    • Benedita
  • No Pesqueiro desde:
  • 09:37 Quinta, 26 de Dezembro de 2013
Re: Fenómenos meteorológicos extremos alteram praias
« Responder #22 em: 18:44 Terça, 04 de Março de 2014 »
Boas,

Muito bom pedras, gostei!  =D>
Cumprimentos,
Roberto

...e se tiver que me calhar uma grade...
...que seja de minis Sagres!!!
 

Offline LMagina

  • Gestor do Pesqueiro
  • Marlin
  • *****
  • Mensagens: 1713
  • Agradecido: 133 vezes
    • Porto
  • No Pesqueiro desde:
  • 23:25 Segunda, 23 de Dezembro de 2013
Re: Fenómenos meteorológicos extremos alteram praias
« Responder #23 em: 03:14 Quarta, 05 de Março de 2014 »
Não está autorizado a ver ligações. Registe-se ou Entre
Mas a redução do volume sedimentar transportado pelos rios é apenas um dos factores da erosão da orla costeira, como refere J. M. Alveirinho Dias no seu estudo de geologia costeira em 1993 "Estudo de Avaliação da Situação Ambiental e Proposta de Medidas de Salvaguarda para a Faixa Costeira Portuguesa" no qual aponta alguns factores concorrentes para essa erosão:
— elevação do nível do mar;
— diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral;
— degradação antropogénica das estruturas naturais;
— obras pesadas de engenharia costeira, nomeadamente as que são implantadas para defender o litoral.

O que verifico é que estando a engenharia Portuguesa na posse de dados que comprovadamente lhe demonstram que há uma significativa redução dos sedimentos fluviais, tenha optado sempre pela pior das soluções em termos de protecção da orla costeira, e o resultado está à vista.

Companheiro PedrasSalgadas,
está aqui tudo muito bem dito e explicado. 100000% de acordo! Muito bom! :)
E só não vê como nós, quem não quer!

Cump's
Lembrem-se sempre: "Quem peixe procura, peixacha!"