Casting Vs Spinning, qual a melhor? Quantos de vocês, pescadores dos predadores de agua doce, já não ouviram esta pergunta ao longo dos tempos? A resposta certa é simples... depende!
Como seria de esperar dependerá sempre do tipo de técnica que se vai utilizar, do local em que se vai pescar e até mesmo da espécie que vamos procurar. No nosso país podemos considerar o Casting como sendo uma técnica ainda pouco usual no pescador ludico, no entanto, se formos a ver uma competição do nacional, notaremos que todos os pescadores têm, quase sem excepção, vários conjunto de Casting e apenas um ou dois de Spinning. Qual a razão? Em que situações se deverá usar cada uma das técnicas? Quem tem razão? Quais os prós e contras de cada uma destas duas técnicas?
Vamos por partes, geralmente a razão pela qual se vê poucos pescadores ditos amadores, ou que pescam unica e exclusivamente como hobbie se preferirem, a usar conjuntos de Casting tem a ver com duas principais razões, o desconhecimento e... as cabeleiras! Desconhecimento porque no nosso país a pesca de Casting não tem propriamente tradições, ou seja os nossos pais e os nossos avós antes deles sempre pescaram maioritariamente com equipamentos de Spinning, e foi esse conhecimento que acabaram por transmitir aos seus descendentes, e depois temos as tão temidas “Cabeleiras” ou “Ninhos de passaro” como preferirem chamar-lhe.
O que é uma cabeleira? Para aqueles que não sabem, a principal diferença entre um carreto de Spinning e um de Casting é a seguinte, num carreto de Spinning a bobine está montada verticalmente sobre um eixo, no de casting está montado na horizontal, isto confere caracteristicas muito especificas a cada um dos equipamentos. A razão pela qual se formam cabeleiras nos carretos de casting é a seguinte, enquanto num carreto de Spinning, aquando do lançamento, a bobine está parada saindo o fio através de “laçadas”, num carreto de Casting o fio sai através da rotação da bobine, ou seja, cada volta de fio que sai pela guia do carreto é correspondida por uma rotação da bobine. Ora se num lançamento se deixar por acidente a amostra cair ou bater em algo parando o movimento de saída da linha sem se parar também a rotação da bobine/tambor com o polegar , ou se se tiver o carreto mal afinado para o peso da amostra etc etc, o que vai suceder é que não estará a sair mais fio pela guia do carreto mas a bobine continuará a girar criando varias voltas de fio “laço” na bobine, e, muito resumidamente, é isto uma cabeleira.
(exemplo de uma cabeleira ou "ninho de passaro") A outra grande desvantagem dos carretos de Casting é o facto de, mais uma vez devido ao risco de criar as cabeleiras, não serem lá muito adequados para pesca ligeiras e tecnicas de finesse que usem fios muito finos e amostras mais leves, porque nessas condições mesmo com o carreto muito bem afinado basta uma simples rajada de vento mais forte para que a amostra leve fio mais lentamente do que as rotações da bobine e pumba... mais uma cabeleira. Para além disso, e no caso de linhas muito finas, se a embraiagem não estiver perfeitamente afinada, e como ao contrário dos carretos de Spinning o fio enrola directamente ao tambor em vez de passar por uma asa de cesto, muitas vezes ao recuperar amostras mais pesadas ou na luta com um peixe o fio vai-se enterrar nas laçadas que estiverem na bobine, consequência disso no lançamento imediatamente a seguir, pumba... cabeleira outra vez.
Ora estas são as grandes desvantagens de um carreto de Casting, tem mais algumas mas são coisas que se conseguem resolver/minimizar com facilidade, portanto passemos agora ás vantagens!
(exemplo de um carreto de casting) Aquela que é, para mim, a sua principal vantagem é precisamente o oposto do seu principal defeito, se não é um equipamento lá muito apropriado para pescas ligeiras já para aquelas pescas ditas pesadas, duras “porcas e más” não existe melhor. Fruto das suas caracteristicas fisicas ( não se esqueçam que ao contrário de um carreto de Spinning em que o veio da bobine só está preso/seguro por baixo o de um carreto de casting está seguro de ambos os lados o que duplica a rigidez extrutural do mesmo) são o material indicado para pescar com fios grosso, amostras pesadas como os Swimbaits por exemplo, e para pescar em condições de muitos obstáculos na água.
Consegue-se igualmente, assim que se consiga aperfeiçoar a tecnica, fazer lançamentos mais longos e mais precisos. Outra das vantagens dos conjuntos de Casting, sendo que esta parte refere-se ás canas, é que têm normalmente um “backbone”, que é aquela porção do blank que fica mais perto do cabo e que menos se dobra sob forças de pressão e tração, mais comprido. Quando devidamente construido o “backbone” de uma cana de casting vai começar directamente no topo do blank onde o pescador segura na cana. Isto permite “rasgar” melhor a vegetação aquatica com as amostras e, principalmente, fazer ferragens mais precisas e vigorosas.
(exemplo de canas de casting)Haveria muito mais para dizer acerca dos conjuntos de Casting mas penso que já abordei as questões principais pelo que passemos agora aos conjuntos de Spinning.
Ora, conjuntos de Spinning! Todos nós os conhecemos e todos nós os temos pelo que a parte dos lançamentos e afinações acho que não vale a pena estar para aqui a aprofundar pois é matéria sem muito para saber e que é mais ou menos do conhecimento geral de todos. Passemos logo portanto para aquelas que são as suas vantagens e desvantagens, quando em comparação com os conjuntos de Casting, para a pesca dos predadores de agua doce.
Aquela que é, para mim, a sua grande vantagem é precisamento aquele que é o grande defeito dos conjuntos de Casting, é o facto de nos permitir pescar sem qualquer problema com tecnicas de maior finesse, permite-nos usar fios mais finos conjugados com amostras mais leves e contidas, o que nas nossas águas nacionais, sobre-pressionadas e com peixes extremamente desconfiados, é uma grande vantagem. Um erro que muita gente comete é, ao ver pela televisão provas do campeonato Americano B.A.S.S. ou de pescadores de lazer Americanos a usarem aqueles equipamentos grandes e “pesados”, pensarem que nós precisamos do mesmo, nada mais falso!
(exemplo de um carreto de spinning) Meus amigos, naquelas águas existem, e saem com frequência, Achigãs com mais de 6/7kg (!!!) e existe uma espécie de Lucio (os Muskies) que fazem os nossos parecer uns bordalos, já para não falar das inúmeras espécies de Peixes-gato, Esturjões, Aligattor-Gar, Salmões, etc etc, que por lá existem. Logo, é somente natural que os pescadores Americanos usem equipamento mais sobredimensionado e robusto que o nosso, nas nossas águas, para os peixes que cá temos atualmente (com o surgimento e consequente dissiminação do Siluro este panorama vai-se começar a alterar um pouco, alías já se vai notando) tal equipamento é desnecessário e raramente produz resultados que compensem as suas desvantagens em comparação com o equipamento mais light.
Voltando ás vantagens dos equipamentos de Spinning quero ainda referir o facto de serem mais versáteis, mais fáceis de lançar em zonas com muito cobertura vegetal, fáceis de lançar em condições de vento ou de muito nevoeiro (condições em que não se vê onde a amostra vai cair), em suma, apesar de não permitirem um lançamento tão longo e preciso como o material de Casting permite em condições semelhantes, são no entanto mais fáceis e intuitivos.
A sua principal desvantagem é mesmo a sua menor resistência fisica, eu cheguei a ter, antes de começar a pescar com conjuntos de Casting, carretos de Spinning com o veio da bobine empenado por os usar demasiadas vezes para pescar com grandes Swimbaits, Cranks e Spinnerbaits quando andava em busca dos Lucios, e já para não falar nas suas embreagens que são por norma mais frágeis que as de um carretos de Casting.
(exemplo de canas de spinning)Em jeito de resumo, e porque o testamento já vai longo, acho que nos dias de hoje o pescador moderno já não deve equacionar se deve pescar apenas com conjuntos de Casting ou de Spinning mas sim em que situações deve utilizar cada um! Para quem tenha essa possibilidade, muitas vezes por falta de dinheiro ou espaço não dá, deverá sempre equacionar a aquisição de alguns conjuntos de ambas as técnicas. Pois isso permitirá evoluirmos como pescadores, permitirá fazer frente ás mais variadas situações e, como eu sempre costumo dizer, o saber não ocupa lugar! Só por esse motivo acho que vale a pena experimentar...
Cumprimentos
José Elvas