Boas,
Lembrei-me que aqui há bastantes anos pesquei choupas e safias no Algarve com pescadores amadores dos Montes de Alvor. Um deles tinha uma embarcação.
Era mais ou menos assim;
Íamos aos berbigões que na altura abundavam na Quinta da Rocha, ali junto a Alvor, além de trazemos uns para o petisco, os restantes mais pequenos esmigalhavam-nos juntamente com sardinha e areia para o engodo. Faziam um grande balde de engodo.
Tinham por lá uma arca congeladora sempre algumas sardinhas para o efeito, que arranjavam no final da venda no mercado de Portimão junto de peixeiros conhecidos que davam as mais amachucadas ou em pior estado.
Íamos para pesca ainda de noite, púnhamos o barco na água por guindaste manual junto á Marina velha acho que no clube náutico. Por essa hora ainda não se via ninguém, a manivela para o guindaste estava escondida num local apropriado.
Saiamos a barra do rio Arade com a alvorada ainda a aparecer ao longe. Naquela época, sem sonda, lá se arranjavam para ficarmos no pesqueiro através das marcas de terra. Quando achavam que estávamos mais ou menos no pesqueiro lançavam um ferro á ré até enrocar e depois outro á proa para ficarmos direitinhos sobre a pedra.
Utilizava-se uma pesca, fio enrolado em cortiça com 4 estralhos, chumbada e um bocado de meia de senhora no final. A meia servia para o engodo, para baixo ela ia a direito cheia de engodo, chegada ao fundo, puxava-se ligeiramente para cima e o engodo estava largado.
As pescas já estavam feitas cediam-me uma. A minha, como era nabo e de vez em quando adormecia, (não raras vezes saia directo do Horta 2 para a pesca) tinha só 3 estralhos, chumbada e sem meia.
Ainda assim tenho uma foto da época em que na mesma puxada apanhei 3 choupas de uma vez. Era rara a vez que ao meio-dia não tínhamos uma arca bem fornecida de choupas e safias de bom tamanho. De vez em quando apanhavam-se umas bicas.
A pesca era muito divertida e dava-me uma fome danada, de tal forma que, quase sempre me questionavam no gozo se tinha vindo para comer ou para pescar.
Certo dia apareceu por perto um outro barco de pessoa conhecida e até cliente do proprietário e mestre da nossa embarcação num negócio que detinha.
Era alguém de Lisboa mas com casa lá. Após os cumprimentos perguntaram se estávamos a apanhar alguma coisa tendo o dono na nossa embarcação respondido que tínhamos umas choupas e sugerido que poderiam ficar por ali pois poderia ser que também apanhassem alguma coisa.
Assim fizeram, passado uma meia hora os semblantes na nossa embarcação estavam cada vez mais risonhos, uns sorrisos aqui, uns murmúrios ali, até que me apercebi que enquanto nós íamos sempre tirando peixe, os da embarcação próxima, embora estando a apenas uns 20 metros, naquela meia hora tinham pescado apenas uma choupa. Obviamente que todos estavam a gozar o prato, dai que perguntei o porquê.
A resposta foi dada num murmúrio sorridente;
Xiuuuuuuu….. está calado que eles estão a pescar na areia.
Cumprimentos.