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Os pescadores de raias de Portugal A alegria de um pescador de costa não se mede pela nobreza e classe do peixe que tenta pescar , mas sim pela sua felicidade de comungar com um oceano repleto de vida , onde até as espécies menos nobres são belas e delicadas no seu voo submerso cumprindo o seu ciclo de vida, o seu ritual marinho. Todos os seres marinhos tem algo de misterioso e excitante quando os capturamos desportivamente. O brilho dos seus olhos que nos fixa, observando o mundo exterior que termina numa praia algures por aí , são os olhos da redenção do criador pela grandeza de tão perto estarmos nós junto dele . A solidão de um pescador de costa quando observa o seu peixe capturado é proporcional á solidão de um peixe que atravessou mares e oceanos perigosos para cumprir o seu ciclo de vida. Ambos tem um destino que os une; Ambos pertencem e destinaram as suas vidas ao mundo da agua, até que o seu ciclo termine e se renove. As raias mais comuns de Portugal A raia é um peixe bentónico que habita fundos arenosos. O mar remançoso de Inverno , quando já a mudança do Equinócio se prolonga, provoca o surgimento perto da costa de algumas espécies comuns de raias que geralmente a maior parte do ano se refugiam em aguas mais profundas e que não estão ao alcance de um pescador de costa. Nesta época do ano durante os meses de Outubro/Novembro,Dezembro começa a dança nupcial de enormes cardumes que se juntam em zonas dunares onde existam praias abertas com poços fundos e procurem alimento tais como; Crustáceos ,pequenos peixes, lulas etc. O seu acasalamento e eclusão dos ovos pode variar de espécie para espécie, mas podemos afirmar que é durante os meses de Dezemnbro até Maio e durante a primavera, que as “bolsas de sereia”, designação dada aos ovos das raias eclodem. Estas bolsas são cápsulas oblongas com os chifres apontados duros nos cantos e depositados em planos arenosos ou enlameados. Cerca de 80/154 ovos são colocados por um individuo num ano. As Espécies: Raia Pontuada/raia comum( Raja Brachyura) : Frequente nas nossas aguas , pode atingir profundidades até aos 100 metros.Tem um tamanho médio de 80 a 90 cms e um máximo de 120 cms. Possui uma pelo grossa , áspera, de coloração castanha avermelhada e na parte inferior uma coloração rosada esbranquiçada. Desova entre Fevereiro e Agosto e a eclosão da larva completa-se num período de 7 meses. Dai a designação de as raias neste período serem avermelhadas ou “menstruadas” na gíria popular, pelo que não se devem comer nesta altura do ano. Nos exemplares jovens hão-de reparar que a parte inferior de uma raia se assemelha á cara de uma criança. Há pescadores na zona do Mediterrâneo que as secam e empalam em estacas para procurar assustar quem passa…. Raia –lenga(Raja clavata) Esta espécie também chamada raia de espinhos, é a raia mais comum das aguas Europeias. É um membro da família dos raiídeos que vive no fundo do mar a profundidades de 10 a a 60 metros e que deve o seu nome aos numerosos espinhos que possui na cauda, dorso e barbatanas peitorais. Os exemplares mais jovens vivem em aguas superficiais e alimentam-se de pequenos crustáceos. Á medida que vão crescendo, deslocam-se para aguas mais profundas e começam a alimentar-se de presas maiores , tais como caranguejos e peixe. Crescem até aos 18 kgs. A cor da raia –lenga é muito variável, mas a maior parte dos exemplares são castanhos mosqueados. A sua presença na costa Portuguesa é ocasional. Raia manchada(Raja montagui): Tal como a raia-lenga, a manchada é um membro europeu da família dos raídeos. Vive em águas mais profundas do que a sua congénere, preferindo os 60 a 120 metros., e é um peixe mais pequeno com um peso máximo que ronda os 3,8 kgs. Tem um tamanho máximo de 80 cms e a sua dieta alimentar consiste sobretudo em crustáceos mas também come peixe-miudo. É uma espécie frequente das nossas aguas. Raia de dois olhos ( Raja naevus) Uma das raias mais facilmente identificavéis, de cor amarelada apresenta uma mancha redonda em cada asa dando a semelhança de serem dois olhos.. Habita profundidades desde os 30 a 150 mtos. Um peso médio que ronda as 0.900 grs ao 1,800 kg.. Frequente nas nossas aguas alimenta-se de pequenos crustáceos, minhocas e pequenos peixes Acasalamento : As raias reproduzem-se por fertilização interna. O macho apresenta um par de extensões modificadas nas barbatanas pélvicas denominadas pterigopódios, com os quais insere o esperma no interior da fêmea.. Os raídeos constituem uma excepção na ordem dos raiformes, uma vez que os ovos são fertilizados internamente são expulsos antes da eclosão. Notas sobre a sua pesca : A pesca ao fundo é a mais adaptável para esta espécie. A maior parte das raias vive e alimenta-se no fundo. As raias não gostam de mares cavados grossos, que remexam as areias e os fundos. Mares de Inverno mansos em noites de luas novas e aguas um pouco tapadas com a temperatura da agua moderada , são o suficiente para que elas se agasalhem e amontoem em zonas de abertas com fundos arenosos . A preia-mar é o melhor ponto de agua, pois elas andam pela beirada tranquilamente procurando alimento. Na vaza também se podem localizar em regos fundos com coroas de areia circundantes. A sua pesca é produtiva preferencialmente de noite, mas não é raro serem capturadas de dia. Equipamento : Canas robustas de 5 metros de preferência e suporte alto bem espetado na areia. A linha da madre deve ser fiável 0,40, 0,45. Chunbadas triangulares de 120, 150 grs e linha bem esticada para poder provocar a mordidela da raia perceptível…. Se uma raia na ordem dos 5 kgs, engolir o v/isco e alapar no fundo arenoso sem darem conta, vai ser muito difícil desaloja-la, pois a pressão que exerce com as suas asas é o mesmo efeito de uma ventosa. Ao menor sinal da ponteira devem correr para a cana levanta-la bem alto e começar a luta sem lhe dar espaço de executar a manobra atrás referida.. Lembrem-se que as mandíbulas das raias tem dentes dispostos em filas bem adaptados para esmagar e triturar os peixes, as lagostas os caranguejos e os moluscos de que se alimentam. Devemos usar uma baixada de 1, 5 metro a dois metros em fluorcarbono no minino 0,40, ligada a um destorcedor triplo resistente ao clipe da cumbada. Este tipo de linha evitará enrolamentos e manterá o v/isco em perfeição rondando o local de eleição onde elas vão entrar. É uma pesca de paciência e sofrimento. Pois nestas alturas do ano as temperaturas nos areais provocados pelos ventos lestes e nordestes são bastante baixas. Iscos : De preferência frescos , imaculadamente frescos. A maior parte das raias são capturadas com peixe fresco. A cavala é particularmente eficaz. Grandes tiras de lula e choco também são eficazes. O isco de eleição é a pequena lula de bico, fresca do dia , da lota , da arte xavega. Pode ser utilizada a congelada mas para mim já não é tão eficaz. Os anzóis de 2/0 a 4/0 para as raias médias até 5, 6 kgs e anzóis 6/0 a 8/0 para os grandes exemplares. A raia tem boca grande pelo que são capazes de engolir facilmente os vossos apetitosos iscos. Este artigo é dedicado aos grandes pescadores de raias de Portugal. Autor : António Simões
