O Francês nº quinze
Chegava numa carrinha Renault 4L,cromada nas jantes,branca com um
design nova versão, com dois frisos cinza metálicos e um logo na parte
trazeira da mala em letras garrafais vermelhas dizendo "Je T"aime France".
Logo pela manhã, encostava a sua carrinha ás palmeiras da Foz,e num
ápice montava alinhadas no paredão as suas canas Garbolino de
encolher, e cada uma apetrechada de um carreto Mitchel 96 ou 98 pro.
Num exercicio escalonado, pelos anos duros de uma linha de montagem
Renault, numa escala carregada de movimentos cadenciados, o
n/franciu,alinhava numa simetria todas as suas quinzes canas,sim
,quinze,numerrro quenze, em tom acentuado das Beiras cruzado com as
limousines das Normandias com um vache qui ri á mistura.
Quinze pacotes de casulo, quinze pacotes de bicha do lodo,e uma bacia
enorme de caranguejo da muda, para o que desse e viesse, tudo nele era
opulencia, tinha vencido na vida.A reforma e as suas quinze canas e os
seus quinze carretos tecnologia de ponta da altura, eram o sinónimo de
vencêr na vida, o n/Beirão franciu das Beiras tinha-o merecido.
Quinze horas de labuta diaria, mais os sábados, enquanto o encarregado
Sr. Dupont,de nariz adunculo,e óculos á professor Tornesol, se
despedia num aceno com as suas canas para mais um fim-de-semana ás
trutas nos Alpes Franceses, o n/Beirão contava os dias , as horas que
faltavam para a partida.
Agora sim , podia sorrir, e num exercicio de vigilia fabril o
n/maitre,observava o horizonte alinhado da ponteira das suas canas,ao
minimo toque de um robalote, de um linguado, de uma solha, de uma
faneca e numa prontidão militar logo se cercava num salto de hora de
almoço do apito da Fábrica , com um sonante"ha c"est bon!!c"est
grande!Ha oui!!c"est grande!!
Mas com o passar do tempo o franciu,já não era notado, o peixe também
começou a rarear e aceitemos a desforra do tempo e desgaste das
maquinas, o n/Beirão franciu já não tinha a genica necessária para
montar e lançar quinze canas ao mesmo tempo, e logo com quinze fanecas
de cada vez!!
Não sei se aceitou a derrota do tempo,do rio e do mar que se encontram
todas as vezes 4 vezes ao dia, se não se adaptou ás novas tecnologias.
A sua fábrica também já fechou, as palmeiras da Foz também estão mais
velhas, o tempo esse corre lento, e o n/francês preferiu rumar á sua
aldeia das Beiras.Arrumou as canas suberbas,desfez-se dos orgulhosos
carretos,e comprou um pomar.
O sumo de uma maçã bravo esmolfe,unica no mundo,Portuguesa,numa tarde
de canicula junto a um ribeiro ocultado pelo milho alto e carvalhos
centenários, foi o prémio justo de um vencedor.
Eu quando pesco, tento sempre levar uma maçã no bolso.Enquanto penso
na vida, no Francês, sinto o gosto da vida,do prazer de viver, pelo
gosto de uma maçã Portuguesa unica no mundo.
Nunca mais vi o Francês.
António Simões