Meus amigos, após anos de "hibernação", voltei.
Um abraço a todos e... aí vai alho...
A REVIRAVOLTA DO SR. LOPES
- Sr. Lopes, hoje é que está bom para a pesca, ah, ah, ah. - Dizia o dono do café onde o cinquentenário Sr. Lopes costumava tomar a bica da manhã. Claro que era uma sarcástica provocação ao educado senhor amante da pesca e excelente pessoa, pois o dia estava de chuva.
E o bom do sr. Lopes lá aguentava o chiste com um sorriso forçado.
- Então e a pesca?... - Dizia o barbeiro, com um sorriso trocista nos lábios.
- Lá vai, lá vai... - Respondia, com um ar bonacheirão o bom do Sr. Lopes, sentando-se e pondo-se a jeito para o corte de cabelo mensal.
- Traga-me lá um robalo de três quilos. - Dizia, com ar de chacota, o vizinho do 2.º esq., ao ver o Sr. Lopes sair equipado para praticar o seu desporto favorito.
- Tomara eu apanhar para mim um de quilo. - respondia o paciente pescador.
E era isto.
A pesca era uma persistente fonte de dichotes escarninhos para o pacífico Sr. Lopes, que educadamente nunca se referia em termos equivalentes aos pecadilhos dos seus interlocutores.
Com efeito, nunca se referia à tendência para a bebida do dono do café.
Nem à bichanisse mal disfarçada do barbeiro.
Nem ao vício da caça do vizinho do 2. esq.. E muito menos ao facto do respectivo compadre aparecer lá por casa para visitar a esposa em dia de caçadas.
Durante anos e anos o Sr. Lopes aturou com um sorriso forçado a zombaria destes e de outros conhecidos.
Até que um dia...
Até que um dia, quando o dono do café lhe fez uma qualquer referência à pesca, o Sr Lopes respondeu-lhe: - Olhe é melhor ir à pesca do que embebedar-me, como você faz praticamente todos os dias. Está a perceber!?...
Quando foi ao barbeiro, assim que o amaricado personagem, com um sorriso trocista, ia abrir a boca, o Sr. Lopes calou-o desta maneira: - A pesca vai muito bem e espero que que o seu "affair" ali com o marçano do supermercado também vá de vento em popa. O corte de cabelo é como de costume e não quero mais conversa.
Quando encontrou o vizinho do 2.º esq., o Sr. Lopes, disse-lhe, de chofre: - Fui no domingo à tarde bater-lhe à porta para lhe dar o tal robalo. Mas quem me atendeu foi o seu compadre. E ele, ao que sei, gosta mais de carne branca do que de peixe, de maneira que comi eu o robalo. Saúde...
Hoje, o Sr. Lopes está livre de dichotes parvos por parte da vizinhança.
E se alguém menos habitual abre a boca para se referir ao seu amado desporto, o Sr. Lopes diz, candidamente:
- Com todo o respeito e consideração, vá levar onde levam as galinhas. E não me chateie.