Quando ia a sair da última das sete pontes para entrar em Coruche, uma simpática moça loura, em biquini, fez-me sinal de paragem e entregou-me uma brochura. Um pouco mais à frente, quando se vira na direcção do Mira-Rio, três moçoilas, também em biquini, exibiam um avantajado cartaz, com uma seta em direcção à esquerda, enquanto faziam uma espécie de dança. O cartaz dizia: 1.ª Prova do Campeonato Nacional de Pesca Desportiva de Água Doce.
Parei no parque de estacionamento adjacente ao Mira-Rio e dirigi-me lá, para o café matinal. Li então a brochura. Era alusiva à 1.ª prova do campeonato nacional de água doce e trazia informação detalhada sobre os atletas, designadamente o currículo desportivo. E curtas declarações de todos sobre os seus objectivos e ambições no campeonato que agora se iniciava.
Acabei o café e dirigi-me, a pé, para juzante do rio. Reparei então numa enorme faixa, suspensa e abarcando a largura da estrada, publicitando a prova. Lembrei-me que ao passar na rotunda para sair da estrada principal e virar para Coruche estava um enorme cartaz também alusivo à prova de pesca, a que na altura não dera grande importância.
Várias pessoas faziam o mesmo trajecto que eu. As crianças, pela mão dos progenitores, ostentavam t-shirts alusivas à pesca, oferecidas por umas moças em biquini, que as distribuíam à beira da estrada. A pequena multidão concentrou-se então junto a uma banca onde eram vendidos os ingressos para uma bancada amovível, de onde se podia visionar a prova de pesca. Chegada a minha vez, paguei os cinco euros pedidos e recebi, das mãos de uma simpática jovem, também em biquini, o talão de igresso, uma garrafa de água, uma bebida em lata e um boné alusivo ao evento, oferta de empresas patrocinadoras da prova.
Sentei-me na bancada no preciso momento em que começava a competição. Nem dois minutos eram passados, saiu o primeiro peixe, uma ablete, por sinal. Então, como que saídas do nada, cinco raparigas em biquini, com uma espécie de peluches coloridos nas mãos executaram uma ginasticada dança, enquanto davam uns guinchos ritmados. A cena repetia-se a cada peixe saído, sendo que os espectadores e espectadoras correspondiam com palmas, com alguns brados de incentivo da parte dos homens e alguns gritinhos femininos. Pela instalação sonora, uma voz feminina informava o nome dos atletas que iam facturando e qual a espécie pescada. O ambiente tinha qualquer coisa de eufórico e era contagiante. E sabiam muito bem as borrifadelas de água fresca que duas garotas em biquini lançavam sobre os assistentes, pois o calor era muito.
Terminada a prova, a pesagem foi também alvo de coreografias de moças em biquini, acompanhada pela instalação sonora e vivida vibrantemente pela assistência. Entretanto, uma banda musical tinha entrado em funções e entoava músicas modernas e populares, ao invés das marchas habituais das bandas filarmónicas. Seguiu-se a sessão de autógrafos dos atletas à muita miudagem presente, as entrevistas para as rádios, jornais e estações de televisão.
Estando eu um pouco afastado da multidão, fui rodeado por várias moças em biquini. E vieram mais. E mais ainda. E ainda mais. Cantavam coisas alusivas à pesca e atabafavam-me, positivamente. Temi ser esmagado por aquelas barrigas lisas e pelos peitos generosos. Gritei que se afastassem. Mas não. Eram cada vez mais e mais em cima de mim. Então desatei a gritar desalmadamente e a tentar afastar as jovens com os braços. Mas o mais que conseguia era levar com seio fartos e perfumados na cara e no tronco. Vou morrer, pensei, cogitando ao mesmo tempo que iria ter uma morte gloriosa. Num último fôlego gritei: VIVA A PESCA DE COMPETIÇÃO!....
Foi então que acordei.
Estava sentado num banco de madeira, em Coruche, à beira-rio. Olhei em redor e lá estava uma dúzia de pescadores na margem do Sorraia. Em prova.
O silêncio era total. O calor atabafante. Os espectadores, debruçados do muro que separa a estrada do areal, eram pessoas dos clubes respectivos, a maioria já entradotes, carecas e barrigudos.
Não sei por que raio, invadiu-me uma profunda onda de tristeza.
Dirigi-me a um deles e perguntei que prova era aquela. Fui informado que era 1.ª prova do campeonato nacional de pesca desportiva de água doce.
Foi aí que me lembrei. Eu tinha ido a Coruche, para observar a pista e almoçar. E tinha sido surpreendido pela realização de uma prova no local. Como tinha dormido muito mal nessa noite, mal me sentei no banco de madeira adormecera.
No caminho para o Tadeia, para emborcar outro café, dei por mim a abanar a cabeça e a balbuciar:
Porra!... Nem tanto ao mar nem tanto à terra!
