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Autor Tópico: Sim, a pesca tem qualquer coisa de patético  (Lida 790 vezes)

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Offline jmet

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  • 16:09 Quinta, 26 de Dezembro de 2013
Sim, a pesca tem qualquer coisa de patético
« em: 15:50 Quinta, 30 de Janeiro de 2014 »

- Então, filho, o que é que pescaste? - Pergunta-me invariavelmente a minha mãe, do alto dos seus 90 anos, aquando da chamada telefónica ao fim do dia, para saber se está tudo bem.
- Apanhei duas dúzias de peixes.
- O quê, douradas, robalos?...
- Não mãe, barbos e carpas.
- Ah!, fostes para o rio. E o que é que fizeste aos peixes?
- Devolvi-os outra vez à água.
- Oh!... Afinal o que é que vais fazer à pesca!?... Só gastar dinheiro!

E é isto. Cada vez que vou à pesca, o discurso da velhota é sempre o mesmo. Mas, enfim, é velha, já não consegue compreender as modernices de certas actividades lúdicas que objectivamente não servem para nada. Antigamente, no tempo da outra senhora, onde muita gente nem férias tinha e o único tempo de descanso semanal era ocupado em ir à missa, praticamente tudo tinha um sentido, um fim, uma utilidade prática, palpável. Na altura, quem ia à pesca, mais do que para se divertir ia para arranjar uma ou mais refeições para a família.

No entanto, há pouco tempo, estando eu a pescar junto a um jardim de uma vila, sob os olhares de alguns passeantes, quando devolvi um barbo à água um jovem disse-me:
- Então você deitou o peixe outra vez ao rio? Se é para deitar fora, para que é que pesca?...

Mais tarde, em casa, pus-me a reflectir sobre o episódio. Já não era uma pessoa de provecta idade a fazer tal observação. Era um jovem!… Também para ele era absurdo pescar sem o fim óbvio de guardar o peixe e utilizá-lo na alimentação. Para ele, devolver o peixe seria talvez como num jogo de futebol o avançado marcar um golo e, depois, ir ao placard do marcador do estádio e retirá-lo de lá. Um absurdo, portanto.

Este episódio trouxe-me à memória os inevitáveis comentários sempre meio sarcásticos dos meus vizinhos de bairro, quando me vêem de canas na mão, pronto para abalar rumo a mais uma pescaria.

E apercebi-me mais claramente que para os não pescadores, a pesca tem qualquer coisa de exótico, de esdrúxulo, de patético.

Por um lado, os não pescadores associam os tipos que pescam à linha a partir de terra a cromos com uma paciência infinita, sentados à beira de uma qualquer marginal a olharem para a ponteira da cana sem se passar coisa alguma, segundo o cliché mais batido da imagem do pescador lúdico.

Por outro lado, aceitam mal, quando nos perguntam o que pescámos, que lhes digamos que devolvemos o peixe à água. E se o não dizem ficam a pensar: “Afinal, para que é que este maduro vai à pesca?”.

Por outro lado ainda, já estão habituados às pescarias mirabolantes de quilos e quilos de peixe (a maioria dos quais bogas e cavalas), obtidos nesse fenómeno ainda recente da pesca embarcada, onde uma dúzia de filhos de Deus se acotovela em barcos sem condições, porque foram projectados para a pesca profissional. Assim sendo, compreendem mal um tipo que pesca de terra e vem de mãos a abanar para casa, quando podia apanhar quilos e quilos de peixe a partir de uma embarcação.

Neste quadro, meus amigos, e considerando que o Mundo não somos só nós, mas sim nós e os outros, temos que admitir que para a maioria das pessoas, designadamente para as que não pescam, a pesca a partir de terra tem qualquer coisa de patético.

Mas, calma, meus senhores, a nossa vingança, sempre que nos vem à baila a patetice da nossa actividade recreativa ou desportiva, está no nosso olhar aos entreténs dos outros. Pensemos no futebol e nas cenas ultrapatéticas que proporciona. Fiuuuu!... Ou na caça e nas suas pantagruélicas patuscadas, generosamente regadas. Ou nas touradas e largadas de touros...Ou noutros desportos e actividades lúdicas, vistas sem o devido enquadramento social e sociológico. É um nunca mais acabar!...

A grande diferença está em que essas actividades e desportos são dignificados pela comunicação social, que os valoriza, assim como às suas patetices, e levam a que sejam alegremente digeridos pela populaça em geral.

Eu, quando me vêm à cabeça as figuras que faço na pesca - e que para os outros são patéticas - engreno logo para os meus vizinhos e conhecidos que são capazes de passar, pateticamente, horas e horas a emborracharem-se com bejecas no café e a falarem de ninharias. Ou para aquela rapaziada que paga um xis para fazer umas caminhadas patéticas que os deixam todos partidos ao outro dia. Ou ainda para os que passam horas e horas a jogarem ou a twitarem pateticamente num qualquer computador.

Sim, meus amigos, pesca tem qualquer coisa de patético, temos de admitir.

Mas calemo-nos em relação ao que os outros fazem.
Coitados, eles não sabem que são ainda mais patéticos do que nós.

Mas não sejamos nós a dizer-lhes.
Por compaixão.

 

 

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