Boas!!
Perceber a reacção dos peixes a estímulos, pode ajudar qualquer pescador a ter mais sucesso.
Do ponto de vista da fisiologia, estímulo é qualquer factor que provoca uma resposta fisiológica ou comportamental num organismo.
Podemos fazer uma distinção entre os vários tipos de estímulos. Aqueles com propriedades direccionais, tais como: luz, gravidade, correntes de água, deslocamentos mecânicos e campos eléctricos, e os que variam com a intensidade como os químicos e a temperatura.
Na água os estímulos térmicos devem ser similares aos químicos. No entanto, embora não seja impossível fisicamente que o calor possa ser transferido debaixo de água, por radiação, não parece, no entanto, ter grande significado em condições naturais.
Enquanto que um peixe apresenta reacções dirigidas, taxias, como resposta a estímulos com propriedades direccionais, só se esperam reacções não dirigidas, kineses, e klinotaxias como resposta a estímulos químicos e térmicos, embora a tropotaxia seja possível se o gradiente for suficientemente grande para ser detectado através da largura, ou comprimento do corpo.
As kineses são variações não dirigidas, ao acaso, da actividade locomotora devido a variações na intensidade de estimulação. Estas variações podem ser expressas em termos de:
- alterações na velocidade do movimento;
- frequência de viragem;
- magnitude do ângulo de viragem entre duas linhas de movimento.
Podem ser divididas em dois tipos, klinokineses, que são alterações na frequência de viragem e no ângulo médio de viragem (um exemplo deste tipo são as reacções à luz), e ortokineses, que são alterações na velocidade de locomoção.
As taxias são, de uma maneira geral, referidas como movimentos ou reacções direccionadas e podem ser divididas em dois componentes:
- Taxias puras – asseguram que o animal vai na direcção correcta;
- Padrão fixo de locomoção – o meio pelo qual o animal viaja na direcção correcta.
Existem três classes de taxias, a Klinotaxia, na qual a direcção do movimento é determinada por uma comparação sequencial de intensidades, a Tropotaxia, na qual há uma comparação simultânea da intensidade de estimulação dos receptores bilaterais, e a Telotaxia, que não envolve nenhuma comparação, dependendo apenas da capacidade do animal para localizar a fonte de estimulação, mesmo com um único órgão sensorial, e a resposta a esse estímulo é um movimento que pode ser efectuado quer na direcção da fonte quer no sentido do afastamento desta. A reacção à luz é um caso especial de telotaxia, e o movimento está num ângulo fixo ou variável (compensação azimute) relativamente à projecção horizontal da linha entre o animal e a fonte de luz.
O estímulo mínimo
O estímulo mínimo detectado por um peixe varia com a condição fisiológica deste. Em condições naturais, a alteração à qual o peixe é submetido, depende da velocidade do gradiente, da velocidade à qual a isolinha (linhas de igual intensidade de estímulos) e o peixe se movem relativamente um ao outro.
Sinal estimulador
No ambiente aquático os gradientes químicos e térmicos horizontais são, geralmente, pouco acentuados e aqueles que podem ser detectados pelos peixes em geral encontram-se através das frentes, entre massas de água, ou em associação com características locais (estuários, baías, fiordes). Não parece provável que migrações envolvendo centenas de quilómetros possam ser provocadas por kineses efectuadas como resposta a gradientes químicos e térmicos, encontrados em mar aberto, embora uma orto ou klinokinese possam restringir um peixe a uma zona fronteiriça. As pistas de origem química e térmica podem, no entanto, actuar como sinais estimuladores de uma resposta a outro estímulo, como por exemplo, orientação para uma corrente de água.
Reacções a estímulos químicos
Nos vertebrados, os receptores olfactivos são enervados por nervos olfactivos mas os órgãos gustativos podem ser enervados por um ou mais nervos cranianos. Nos peixes, os principais nervos envolvidos são o VII (facial), IX (glossofaríngeo) e o X (vago). O VII enerva os receptores gustativos da boca, o IX e o X enervam a região branquial. Alguns receptores químicos podem, no entanto, ser enervados por nervos espinais.
Dos três receptores químicos, olfactivos, gustativos e químicos comuns, os olfactivos parecem ser os mais sensíveis. O órgão olfactivo detecta quantidades tão diminutas que foi classificado, por Parker (1922), como um receptor à distância. Pelo contrário, o órgão gustativo tem uma sensibilidade fraca e só detecta substâncias em concentração elevada, mas, por exemplo, tem um papel muito importante quando um peixe, já no seu rio natal, procura o local exacto onde nasceu.
Os factos acima descritos levantam a questão do papel que o olfacto pode ter na procura do alimento e na localização de áreas que podem ser caracterizadas por pistas de origem química. Teichmann (1959) descobriu que as enguias seguem um trajecto em espiral, quando viajam através de um gradiente olfactivo ou através de um rasto olfactivo. O aspecto do trajecto sugere que a resposta a esse estímulo olfactivo seja uma klinotaxia (a direcção do movimento é determinada por uma comparação sequencial de intensidades).
Reacções a estímulos térmicos
A temperatura pode actuar, num peixe, através de duas vias:
- receptores sensoriais, e, portanto, pelo sistema nervoso central;
- acção directa sobre o metabolismo.
Os receptores térmicos, nos teleósteos, estão disseminados por toda a superfície do corpo. A resposta comportamental dos peixes a variações de temperatura depende da sua história termal e do ambiente termal em que se encontra num dado momento.
No que diz respeito à detecção de gradientes espaciais, a resposta dos peixes parece depender em parte da velocidade à qual o peixe atravessa uma isotérmica. Se os outros factores permanecerem constantes, isto pode levar a uma distribuição diferente dos peixes adultos, maiores, e dos peixes jovens, menores, em relação à temperatura.
Reacções às correntes de água (Desenvolverei mais este tema noutro tópico)
No tocante à migração, a reacção dos peixes às correntes de água é um dos aspectos mais interessantes do seu comportamento, dado que se põe a hipótese de as correntes terem um papel importante na orientação e direcção do curso dos movimentos.
O termo reotropismo é utilizado para descrever a reacção dos peixes às correntes e, estritamente falando, só cobre a reacção destes ao fluxo de água, mas pode estender-se a todas as reacções que o peixe directa ou indirectamente tem, como resposta a uma corrente de água, incluindo também as respostas pseudo-reotrópicas, como as respostas locomotoras a um estímulo visual resultante do deslocamento do fundo e as respostas a acelerações lineares e angulares produzidas pelo movimento dos peixes no espaço.
Reacções à luz
O olho é o principal, mas não o único, receptor para a luz. Em alguns peixes a área pineal, bem como outras partes do diencéfalo, são sensíveis à luz. A fotorrecepção dérmica também ocorre nalguns peixes (Steven, 1963).
Os peixes reagem fotocineticamente e fototactilmente à luz. Em condições naturais a resposta a uma alteração na intensidade da luz é, geralmente, uma migração vertical para as águas profundas de dia, e para as águas superficiais de noite. Isto pode ser importante durante a migração, uma vez que os peixes que emergem da profundidade perdem os pontos de referência visuais e tácteis e podem entrar num corpo de água que se move a uma velocidade diferente e em direcção diferente à qual eles nadavam durante o dia. Na pesca, também é importante. A luz pode atrair algumas espécies (lula, por exemplo), mas afastar outras (badejo).
As reacções fototácticas dos peixes à luz são de particular interesse, em conjunto com a possibilidade do uso de pistas celestiais usadas durante a migração. Um peixe repousando num gradiente de luz mover-se-à na direcção da intensidade máxima e esta resposta é, provavelmente, uma telotaxia simples.
Obrigado pela leitura.
Cumprimentos,
LMagina
